A reunião de cúpula da União Sul-Americana, concluída ontem, em Brasília, resgata o processo de aproximação dos países do continente, ultimamente sob atuação discreta em função de fatores conjunturais. Para o Brasil, tão importante quanto a iniciativa de integração sul-americana, deve ser a revitalização do Mercosul, por compor nossa esfera de vizinhança na área mais dinâmica para a economia brasileira: a metade sul do maciço continental americano.
A integração dos países do bloco sul-americano ganha relevância nesta época de globalização de fluxos financeiros, de comércio de bens e serviços, de intercâmbio cultural e de universalização das comunicações de que é exemplo a rede internet. O aspecto central é que essa globalização multiplica oportunidades, mas também lança desafios, entre eles a competição entre países de escala ou blocos de países hoje os atores principais no cenário internacional. Exemplos da nova realidade são as dificuldades enfrentadas pelo Brasil para remover barreiras de acesso a mercados em países líderes em riqueza, apesar de vitórias pontuais nos foros de regulação como a Organização Mundial de Comércio.
O problema é que, enquanto outros blocos negociam em coordenação, os países de nossa região continuam tentando operar como atores isolados, sob paradigmas que ficaram para trás desde o fim do século passado. A ordem internacional em construção assenta sobre pólos de escala assimétrica: de um lado o colosso norte-americano, de outro a União Européia e, a meio caminho, o Japão e potências emergentes no mercado mundial. Por tentar construir um espaço próprio de atuação, que resgata o alinhamento entre nações emergentes do Sul, o Brasil enfrenta insucessos que colocam em questão a política externa.
Esse perfil diferenciado, ao reavivar alinhamentos do período da "política externa independente" tais os acordos de aproximação com Cuba e Venezuela , leva a uma integração mais discreta com parceiros tradicionais. Os atritos com a Argentina e a aproximação do Paraguai com os Estados Unidos são demonstrativos desse novo quadro. Não obstante, há elementos positivos para a integração da América do Sul, à medida em que o bloco trabalhe na construção de um desenvolvimento regional baseado na aquisição de habilidades para a maioria de suas populações como forma de erradicar a pobreza.
O crescimento equilibrado da região pode explorar potencialidades de integração de infra-estrutura para dar mais densidade ao comércio intrabloco como mostrou reportagem deste jornal sem embargo da busca de mercados externos ao continente. No aspecto institucional, uma rede de relacionamentos na região favorece a estabilidade que leva a melhor desempenho geral; caracterizando ainda um apoio mútuo que, ao reforçar a segurança regional, consolida a soberania de cada país, membro, permitindo superar temores de ingerência que favorecem comportamentos radicais.