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Editorial

Juro que não é preciso

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulga na quarta-feira a decisão em torno da qual analistas do ramo e adivinhos em geral apostam todas as suas fichas: o juro básico da economia vai, enfim, começar a baixar. Todos são unânimes na previsão de que a queda será mínima, seguramente não mais do que 0,25 ponto porcentual, puxando a taxa atual de 19,75% para 19,50% – o que ainda mantém o Brasil na posição de recordista do campeonato mundial do juro real alto, com cerca de 14% acima da inflação anual.

Parece ter se construído a mais perfeita condição para que o Banco Central inflexione para baixo com mais vigor e velocidade a trajetória descendente dos juros, conforme mês a mês vêm confirmando os principais indicadores do comportamento dos preços e da economia em geral. Ainda na última sexta-feira, a Fundação Getúlio Vargas divulgou a primeira prévia de setembro do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), apresentando uma deflação de 0,56%. Em agosto, o mesmo índice já registrava queda de 0,36%.

O IGP-M não é o indexador para medir a inflação oficial. Esta é medida pelo IPCA, que serve de base para o balizamento do regime de metas inflacionárias. Entretanto, O IGP-M é mais completo por constituir-se na média ponderada de três outros índices. Por isso retrata com muita fidelidade o real comportamento dos preços. E os três índices que o compõem, felizmente, apresentaram-se negativos.

O Índice de Preços por Atacado (IPA), que representa 60% do IGP-M, teve queda de 0,73%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que tem 30% de participação, apresentou caiu 0,30%. Já o Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), que pesa 10% na formação do IGP-M, teve queda de 0,04%. Os resultados deste mês seguiram-se aos apurados nas pesquisas anteriores, igualmente negativos. Ou seja, em praticamente todos os setores da economia a inflação dá sólidos sinais de que está controlada.

Em sendo verdadeira esta premissa – isto é, de que se obteve, afinal, a almejada estabilidade monetária –, conclui-se logo pela desnecessidade de manter os juros em níveis tão elevados quanto os atuais. E que, portanto, o melhor a se fazer a partir de agora é acelerar, desde que mantida a segurança, a marcha de retorno a patamares mais civilizados para que o amargo remédio não envenene o desempenho de áreas estratégicas para o crescimento econômico. A indústria, por exemplo, deu em agosto alguns sinais perigosos de sufocamento: a produção caiu mais de 2% em relação mês anterior.

Talvez o temor do Copom de tomar uma decisão mais ousada resida na questão do petróleo, cujos humores colocam em risco todas as economias do mundo. Ainda na sexta-feira, a Petrobrás reajustou o preço da gasolina em 10% e o do diesel em 12%. Claro que estas altas serão transferidas para toda a cadeia dependente dos custos da energia. A questão é saber em quanto a fixação da nova taxa de juros será suficiente para minimizar o impacto.

É esperar para ver.

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