Ótimo para quem, cara pálida? Esta é a pergunta inevitável que sobrevém a quem toma conhecimento da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que derrubou o juro em meio ponto porcentual, para 18% ao ano. Segundo ela, o ritmo atual de redução da taxa é "ótimo", pois corresponde bem à "implementação desse processo de flexibilização e contribuiria para aumentar a magnitude do ajuste total a ser implementado".
Para quem tem dificuldade para entender o tecnoburocratês da linguagem do BC, traduza-se: é preciso ir devagar com o andor, caso contrário não se atingirá a meta de inflação. "O espaço para juros reais menores no futuro continuará se consolidando de forma natural", diz a ata, sem que se coloque "em risco as conquistas no combate à inflação e na preservação do crescimento econômico com geração de empregos e aumento da renda real".
Ainda assim, a explicação pode continuar soando obscura e paradoxal para muitos brasileiros, e exatamente para aqueles que estão atrás dos empregos a que se refere a ata do Copom. Estes, em sua maioria, nem entendem a correlação entre taxa de juros e criação de vagas de trabalho, mas sofrem do mesmo jeito.
O fato é que, embora seja inegável o sucesso da política monetária para não deixar a inflação extrapolar a meta, há efeitos negativos que atingem exatamente os mais fracos, os que penam à margem do mercado de trabalho. Sofrem não apenas por causa do ritmo lento da queda do juro, mas também em conseqüência da altíssima carga tributária lançada no lombo dos contribuintes outro forte componente das distorções da conjuntura e da política econômica atual.
Esses dois fatores, somados à crise política, foram explicitamente apontados ontem pelo IBGE como os principais causadores da estagnação do mercado de trabalho. Em sua pesquisa mensal, o Instituto verificou que foram criados em novembro último apenas 13.800 empregos com carteira assinada, contra os quase 80 mil no mesmo mês do ano anterior. A queda foi de 82%. Foi o pior novembro da história. Nem mesmo os contratos temporários de trabalho no comércio, comuns nesta época do ano, foram suficientes para melhorar o cenário.
Mas o fenômeno da estagnação não se configura apenas em relação ao mês de novembro. Já há seis meses a taxa de desemprego encontra-se parada na média de 9,5%, muito embora, festeje-se, este índice seja menor do que o verificado em anos anteriores. De qualquer forma, reflete a paralisia geral da economia, demonstrada também pela regressão do desempenho do PIB no último trimestre.
É claro, o PIB cresceu pouco porque ninguém se encorajou a investir na produção. O capital preferiu alimentar-se pantagruelicamente dos juros pagos pelo governo a correr o risco de arcar com a pesada carga tributária que recai sobre quem produz. Obviamente, não havendo investimento produtivo, não há criação de empregos. Logo, deduz-se, quem mais paga caro por tudo isso é exatamente a base da pirâmide social, os mais pobres. Ótimo?