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Se o governo não controlar os nervos à custa de calmante forte para curar-se do faniquito e estabelecer um mínimo de ordem na sua bagunça vamos ter um final de ano imprevisível e a continuação das turbulências no próximo ano crítico da campanha. Desafio desanimador que esbarra na premissa: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem jeito? Pode ser, mas não parece. O seu singular comportamento no olho do furacão revela absoluta indiferença diante dos riscos e a obstinada persistência nos erros.

Não pode ser tática diante do alarme dos fatos. A dose de periculosidade das CPIs dos Correios e dos Bingos – com o enterro de indigente da CPI do mensalão – na busca das provas que comprovem a pilha das mais cabeludas denúncias, aconselha a revisão dos equívocos e a sua enérgica, radical correção.

Reincidente teimoso e contumaz, no galeio da corda bamba esvaziou a autoridade do ministro Antônio Palocci, mantendo-o enfraquecido como o controlador das finanças, guardião à boca do cofre para impedir a farra da gastança eleitoral. Os excessos, bem entendido. Mas quem é capaz de convencer o presidente da inutilidade da sua frenética movimentação nas viagens domésticas e na delicia dos giros internacionais? Pelo visto nem a sacudidela das pesquisas, que acendem a luz vermelha da advertência. Ressalve-se que os índices das tendências e do estado de espírito do eleitorado antes do início oficial da campanha e a mais de um ano das urnas não devem ser desprezados nem justificam os foguetes do açodamento ou o chilique do desespero.

Em termos, bem entendido. A aprovação do desempenho pessoal do presidente Lula despenca aos trambolhões, caindo 20 pontos percentuais nos últimos nove meses nas pesquisas CNT/Sensus. A cadência de queda, depois da cambalhota dos tempos venturosos de altos índices positivos, espalha o desânimo pelo maltratado esquema petista, com a penca de candidatos e seus penduricalhos arrancando os cabelos que sobraram dos puxões nesta interminável fase calamitosa.

Pois Lula não está nem aí. Chapéu de palha de agricultor enterrado na cabeça, o rosto em riso escancarado, assistiu a encenação do duelo entre o bem e o mal na abertura do Congresso Nacional de Agricultura Familiar na cidade goiana de Luziânia. Palanque armado, microfone e a platéia de mais de mil companheiros trabalhadores rurais, soltou o verbo na facilidade do seu improviso, para retomar o tema que andava esquecido da transposição do Rio São Francisco, a obra que deverá marcar o seu governo, o maior de todos os tempos, carregando nas águas que irrigarão as terras da área mais seca do Nordeste. O presidente-candidato-itinerante percorreu duas praças em dia de rodada cheia. Improvisou, língua solta e no embalo da euforia. De raspão, paparicou o ministro Palocci com o adjetivo forte de indispensável, desconversou sobre a obviedade da candidatura à reeleição. Mais tarde, recebido com vaias comandadas por Clarissa Matheus, filha do casal Garotinho, quando chegava ao Hotel Glória para o 25.º Encontro Nacional do Comércio Exterior, extraiu do desconforto a conclusão lógica que justifica as suas andanças: "Estamos entrando num ano eleitoral e na porta do hotel dá para ver que a campanha já começou."

As cócegas temerárias da sarna da aflição ante o risco da derrota ou de um desfecho traumático, despertaram o governo do sono de três anos e onze meses do mandato para o mutirão do salve-se quem puder. Os bilhões poupados pela usura da política econômica, por ordens diretas do presidente Lula ao ministro Antônio Palocci – numa das muitas conversas na rodada para garantir a sua permanência sem cutucar a ministra Dilma Rousseff – serão afinal distribuídos como confetes em fuzarca carnavalesca. Ministros e secretários que se espremem no monstrengo do maior ministério de todos os tempos catam no baú os projetos esquecidos, sopram o pó e entram na fila para inscrição no festival de investimentos. Vai ser uma festa como este país nunca viu, como promete o presidente.

Ora, não tem como dar certo. Nem é possível acionar traquitana enferrujada por anos de abandono, ao sol e ao sereno, no fundo da garagem.

Dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siaf) gritam a denúncia que, até 17 de novembro, o governo só investiu 16,7% do total de investimentos aprovado pelo Congresso. A correria para tamponar a buraqueira do tempo perdido não promete bons resultados. É como jura de fumante que vai largar o vício. Nem o presidente revelou o mínimo interesse pela administração, repassando informalmente o comando da rotina palaciana para o chefe do Gabinete Civil – do todo poderoso deputado José Dirceu à tinhosa ministra Dilma Rousseff – nem o obeso paquiderme que ressona na Esplanada dos Ministérios tem tutano e pureza para o milagre anunciado.

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