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Em 16 de dezembro de l943, nos salões do Clube Concórdia, o professor José Pereira de Macedo encerrou sua oração de paraninfo, aos 33 doutorandos da "Turma Petit Carneiro", com uma apreciação sobre as honrarias que os médicos recebiam da sociedade. "Sereis meus jovens colegas, por força das vossas atribuições, homens de projeção cujos atos a multidão assistirá, analisando o seu significado e deles colhendo ensinamentos para a própria conduta. Valendo por demonstrar o vosso valor tereis cumprido o dever de agentes conscientes do destino, criando espaço para o homem caber no mundo." Com tal persuasão, o orador nos louvava como exemplos de dignidade e decência, aptos e indicados para a missão de congregar os demais numa cruzada de nobrezas espirituais em prol da comunidade. Uma utopia nas palavras do saudoso mestre, que o futuro se prestou, desde logo, a contrariar. Dos 33 formados nas galas de uma noite perdida nos anais do último século restam apenas 9. E se os falecidos, profissionais dignos e respeitáveis, nada colheram em prol do objetivo sonhado, os remanescentes menos ainda numa época que se complica a cada dia que passa.

Dos anos submersos de outrora ao presente que vivemos, após cinco meses de CPIs, debates, e barbáries, a esperança de uma nova fase de evolução social e política ameaça mais um malogro decepcionante.

Não é de gardênia o perfume, nascido em Brasília, a evolar-se Brasil afora invadindo as narinas de milhões de brasileiros. É um odor peculiar, mistura de orégano, mussarela e provolone, iguaria originária de Nápoles preparada com capricho, esmero e safadeza, por um mestre-cuca vindo do Nordeste a contratar uma equipe da maior competência em subornos, corrupções, compra e venda de consciências.

A última contratação, Aldo Rebelo, barganhada por um Ministério, secretarias, cargos e 1 bilhão em espécie, já demonstrou o tanto que vale ao substituir o quadro do Papa Bento XVI que abençoava seu gabinete por uma fotografia de Simon Bolívar, o libertador da América Espanhola que nada tem a ver com o Brasil. Após o acúmulo de várias derrotas, o governo conquista uma vitória de Pirro, com mais danos para o vencedor do que para o vencido. Em 279 a.C., o rei Pirro de Épiro (Albânia) reuniu seus oficiais no campo de batalha de Asculum, perto de Roma, para saudar a vitória parcial contra o exército romano. Diante das enormes perdas de oficiais e soldados, declarou: "Com mais uma vitória como esta o meu reino está perdido." Ao escancarar levianamente os cofres da nação, Lula fez um péssimo negócio pagando muito caro por um homem que mais desqualifica do que engrandece. A dissonância não passou em branco pela imprensa americana: "Que país é esse em que um candidato comunista é a voz da moderação?"

Nelson Jobin, presidente do Supremo Tribunal Federal, é o principal articulador de Luiz Inácio, ajeitando tudo nos moldes que o desgoverno quer. Perpetrou a infeliz façanha de paralisar as CPIs, concedendo, na calada da noite, liminares salvadoras a seis deputados federais do PT. Ao ser censurado, por essa molecagem, Jobim declarou-se "um personagem que adora ser criticado, não sofrendo nada com isso". Uma auto-apresentação que expõe a textura da peça, devidamente manjada por seus ideais ególatras. "Intimíssimo de Lula com quem tomou banho nu na Ilha Grande, quando hóspede de conhecido empresário, tem como plano se aposentar em 2006, participar da campanha da reeleição, ocupar a Casa Civil e fortalecer seu projeto de presidente em 2010."

A impunidade que viceja nos altos escalões da República é a maior revolta que impera na classe menos favorecida, testemunha das mil e tantas maroteiras que derramam seus saldos no bolso dos aproveitadores de hoje e de sempre. Bem por isso a prisão de Paulo Maluf, ao invés de compaixão, foi recebida com efusiva alegria pela população ao contemplar pela primeira vez "um grande homem" enclausurado numa cela a reclamar de maus-tratos, e dores no baixo ventre.

Uma surpresa em se tratando de uma pessoa com dezenas de anos na crista da onda, figura permanente nas manchetes dos jornais, nos comícios das ruas e nas entrevistas de televisão, sem acusar sequer uma dor de dente, ser, subitamente, levado ao hospital para exames de alta complexidade.

Um bravo que reagia feito leão, prometendo aos investigadores todo o dinheiro que teria na Suíça ou nas Bahamas, revoltado aos brados de "É mentira, é mentira!" a se entregar qual carneirinho de presépio, numa chuvosa noite de sexta-feira em busca da prisão que há muito o esperava.

Eterno candidato e perdedor contumaz, sua carreira política aponta duas vitórias (82–92), para a Câmara Federal e Prefeitura de São Paulo, contra sete revezes, dois para presidente da República, Tancredo Neves em l895 e Fernando Collor em l989, duas para a Prefeitura, Luíza Erundina, Marta Suplicy e três para o governo do estado, l990,1996 e 2002. Ao ver Maluf, débil, doente, "gemendo e chorando neste vale de lágrimas," prostrado num leito hospitalar sei que me comoveria. Mas se está aprontando mais uma, no sentido de trocar o cárcere por um aposento numa Casa de Saúde, posso lhe detestar em dobro.

Quando prefeito, S. Exa. costumava dizer: "Bandido bom é bandido morto."

E Maluf bom é Maluf preso.

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