Antes de seguir viagem para a Argentina, onde participará da Cúpula das Américas, o presidente Lula destacou, na aprovação pelo Congresso da MP do Bem, a contribuição dos parlamentares para o país, ao evidenciar que não existe "guerra entre a classe política e o governo", mas apenas "divergências normais num regime democrático". A colocação do presidente é positiva, devendo prevalecer sobre outras linhas de pensamento existentes nos meios governistas que privilegiam o confronto com adversários, a pretexto de reagir a denúncias sobre desvios praticados por agentes políticos ligados ao Palácio do Planalto.
A radicalização não faz bem ao governo nem ao país, porque todos conhecemos o potencial erosivo das paixões políticas em uma sociedade como a nossa. Ademais, ao antecipar o clima da campanha eleitoral de 2006, a turbulência tende a desviar atenção para o fato político-eleitoral em vez de priorizar a solução de problemas pendentes; um gasto de energia que perpetua o ciclo histórico de avanços e frenagens (go and stop), típico dos países em processo de desenvolvimento. No caso o prejuízo é maior para o governo, que, se optar pelo confronto em vez da conciliação, compromete na prática um ano de mandato: a oposição sofre menos dano, já que, ao fustigar o governante em exercício, se ocupa de um papel típico de quem está fora do poder.
Por isso o presidente da República fará bem em ouvir as vozes moderadas de sua equipe tais o ministro Palocci, da Fazenda; o líder do Senado, Tião Viana em vez de dar curso aos membros mais radicais, que se comportam como ainda integrando um partido oposicionista em marcha batida para chegar ao centro republicano esquecidos de que hoje são governo; devendo, portanto, apresentar resultados próprios de quem exerce o mandato. A propósito, a falta de resultados é um dos pontos fracos das democracias latino-americanas, conforme a mais recente pesquisa do instituto chileno Latinobarômetro.
No Brasil, a organização acadêmica do Chile identificou que 37% dos eleitores dão preferência ao regime democrático sobre qualquer outro, numa queda de quatro pontos porcentuais em relação aos 41% apurados em 2004. Felizmente, a decepção com a democracia não torna os latino-americanos apoiadores de soluções autoritárias, situação aceita por apenas 15% dos brasileiros ouvidos neste ano. É que o pluralismo democrático praticado por mais de 70% da população mundial continua valorizado, dado que, apesar de seus defeitos, ainda é a melhor opção para os povos como pontificava Churchill, o estadista britânico que liderou a vitória das nações democráticas contra o totalitarismo na 2.ª Guerra Mundial.
O que vale referir é que, passada a atual conjuntura, devemos continuar insistindo nas reformas aperfeiçoadoras do sistema, tanto para reduzir o risco de corrupção quanto para melhorar a eficácia da resposta política à sociedade; como recomendou em sua última visita ao país o "brazilianista" Thomas Skidmore.
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