Os comunistas que desencadearam o terrorismo e a luta armada dos anos 60 e 70 e seus aliados mantêm, com obsessiva pertinácia e sob os holofotes da mídia que comandam, as estórias sobre seus mortos e desaparecidos. E, como de hábito, o assunto é enfocado sem o menor respeito aos fatos e à verdade histórica. Ainda agora, com a vasta cobertura que essas obras conseguem, anuncia-se por aqui a publicação de mais um livro sobre alguns deles. O autor é um ex-aprendiz de guerrilheiro que não passou das primeiras lições, pois foi logo preso e depois incluído na lista dos subversivos trocados pela vida do embaixador suíço no Brasil.
Recentemente, foi amplamente noticiada a devolução à família dos restos mortais de Flávio de Carvalho Molina, cujos ossos foram retirados, em 4 de setembro de 1990, da vala comum onde foram encontrados no célebre Cemitério de Perus, em São Paulo. A matéria veio acompanhada de várias falsificações; a primeira quando insinua que foram exumadas 1.049 ossadas de desaparecidos políticos. Não é verdade! No livro "Dos filhos desse solo", Nilmário Miranda relaciona 364 mortos. Já o Grupo Tortura Nunca Mais proclama que seriam 284. Isto para todo o Brasil, inclusive no Araguaia e no exterior. A matéria omite que essas ossadas são de indigentes e que apenas as de seis terroristas estariam entre elas.
Flávio de Carvalho Molina foi preso em São Paulo, por agentes do DOI, em 6/11/1971, Interrogado, indicou um ponto de encontro para o dia seguinte, na Rua Pedro Marchetti esquina com a Rua Xavier de Almeida, às 13 horas. Seus captores não sabiam que esse era um chamado "ponto de polícia", um tipo de "ponto", previamente combinado com a organização, que tinha por finalidade fazer que seus companheiros tomassem conhecimento de prisão e, caso tivessem condições, tentassem o resgate. Era uma situação de alto risco para ambos os lados. No dia seguinte, Molina foi conduzido ao "ponto" por ele indicado e no horário combinado. Na ocasião seus companheiros tentaram resgatá-lo. Flávio de Carvalho Molina tentou fugir junto com seus companheiros e caiu morto em meio a intenso tiroteio.
Aí vem a segunda falácia: "Os repressores enterraram o corpo com o nome falso de Álvaro Lopes Peralta para ocultá-lo." Na verdade, Flávio de Carvalho Molina, ao ser preso, usava uma identidade com aquele nome. Essa identidade era, paradoxalmente, falsa e verdadeira. Falsa, porque o nome que nela constava não era o mesmo que ele recebera ao nascer, quando registrado em cartório. Verdadeira, porque a nova cédula de identidade era legítima, embora obtida através de uma certidão de nascimento falsa. Com essa certidão Molina compareceu a um posto de identificação da polícia e passou a usar uma identidade "verdadeira" como o nome de Álvaro Lopes Peralta. Essa artimanha criava uma nova pessoa nos registros oficiais.
Para a autoridade policial tal identidade era perfeitamente válida e reconhecida como legítima. Quando seus portadores morriam, como foi o caso de Molina, o problema estava criado. Só podia haver sepultamento usando o nome da identidade que o morto portava quando faleceu. Quando o Inquérito Policial era instaurado, lá constava essa situação inusitada de dupla identidade. Levava muito tempo para que isso fosse corrigido judicialmente e, como o cadáver não podia ficar insepulto, eles eram enterrados com os nomes constantes das carteiras de identidade. A esquerda, ladinamente, usou e continua usando essa situação para afirmar que os terroristas eram enterrados em cemitérios, clandestinos, com nomes falsos, para não serem localizados. Para exemplificar, imaginemos que José Dirceu tivesse morrido por causas naturais durante o tempo em que ficou escondido em Cruzeiro do Oeste. Naturalmente, seria enterrado como Carlos Henrique Gouveia de Mello, nome com que se casou e que transmitiu a seu filho. Hoje seria mais um dos desaparecidos por culpa da "ditadura militar". Os caçadores das ossadas de terroristas e guerrilheiros estariam procurando seus restos mortais.
Uma outra falsidade da notícia aparece ao dizer que Flávio deixou os estudos e a casa de seus pais em 1969 por causa da perseguição política. A verdade é que Flávio deixou os estudos e a família para ir fazer curso de guerrilha em Cuba e, ao voltar, continuou sem contato com a família, pois passou a viver na clandestinidade, praticando ações subversivo-terroristas, juntamente com seus companheiros do Molipo. Sua família, provavelmente, nem sabia de sua volta ao Brasil, nem que usava o nome de Álvaro Lopes Peralta. Se soubesse, teria tomado conhecimento de sua morte, uma vez que o fato foi noticiado nos jornais.
Finalmente, a notícia afirma que Flávio Carvalho Molina, militante de esquerda, foi preso, torturado e assassinado durante a Ditadura Militar. Quanto a ser torturado e assassinado no DOI, essa alegação é sempre usada em quase todos os casos quando se referem aos subversivos que morreram em combate, tentando fugir, suicidando-se ou em acidentes de carro. É sempre importante criar a imagem de que eram torturados e assassinados "jovens estudantes perseguidos pela polícia, apenas porque lutavam pelo restabelecimento das liberdades democráticas". Fez e ainda faz parte da estratégia, acolhida por setores da imprensa formados por anistiados políticos e por muitos participantes da luta armada, repetindo o que, orientados por seus advogados, sistematicamente, disseram em Juízo ao serem processados. As bombas, a violenta reação armada, a guerrilha, urbana ou rural, os assassinatos dos próprios companheiros ou de adversários ficam no esquecimento ou são apresentados como a justificada "violência dos oprimidos".
Raymundo Negrão Torres é militar reformado e autor do livro "O fascínio dos "anos de chumbo".