Bom dia!
“Tem que manter isso, viu?” será a frase do ano na política brasileira, mas não se refere exatamente àquilo que todos imaginamos por mais de 24 horas. Sim, essas palavras saíram da boca de Michel Temer. Não, não era uma resposta direta a Joesley Batista ter dito que estava dando mesada a Eduardo Cunha e Lúcio Funaro para que eles não delatassem. Essa tese é a base do pedido de investigação feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. E aceito pelo relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin.
Se não é conclusivo quanto à anuência de Temer ao cala-boca de Cunha, o áudio da conversa com Joesley Batista oferece farto material para investigação contra o presidente. O peemedebista ouviu passivamente, por exemplo, o empresário relatar que estava pagando R$ 50 mil por mês para um procurador da força-tarefa que o investigava mantê-lo informado. A resposta de Temer:
Ótimo, ótimo.
Ao reagir passivamente à confissão de um crime, Temer pode ter cometido outro: prevaricação. A implicação do presidente não se resume ao áudio. Com sigilo retirado por Fachin, a delação traz uma série de denúncias contra o presidente: pagamento de propina, mesada para aliados e tráfico de influência acertados em mais de 20 encontros pessoais.
Michel Temer reagiu duramente. Em pronunciamento no Palácio do Planalto, descartou qualquer possibilidade de entregar o mandato.
Não renunciarei. Repito, não renunciarei.
Mesmo que a história mostre que isso não é uma boa ideia, como resgata Camila Abrão, no Caixa Zero. Mesmo que para 87% dos brasileiros Temer deva renunciar. Nitidamente, ele escolheu a tática do “um dia de cada vez” para sobreviver na presidência.
Temer terá trabalho. O PSDB pulou fora do governo, mas depois recuou e já não sabe para onde vai. Um ministro do PPS (Roberto Freire, Cultura) entregou o cargo; o outro, Raul Jungmann (Defesa), continua. O PSB cogita deixar a base aliada.
O apoio no Congresso será fundamental para derrubar os 11 pedidos de impeachment protocolados (e contando...). A tendência é Rodrigo Maia arquivar todos. Também será necessário para recolocar em votação a reforma da Previdência, extraída da pauta pelo relator Arthur Maia (PPS-BA). A tramitação da reforma trabalhista também foi suspensa. As investigações precisam rápidas para as reformas não pararem, resume Ricardo Amorim.
Avançar com as reformas seria uma ótima resposta a um mercado que viveu dia de pânico ontem. O dólar foi a R$ 3,38, a Ibovespa teve a maior queda desde a crise global de 2008 e a Bolsa ativou o circuit breaker, mecanismo de defesa a variações bruscas. Para o investidor, o melhor a fazer era ir ao cinema antes de tomar decisões precipitadas - sugestão da editora Fabiane Ziolla Menezes.
Evitar a precipitação é fundamental para os próximos passos. Em nosso editorial, dizemos que a gravidade das denúncias exige investigação profunda e firmeza. “Se as investigações apontarem para a participação do presidente da República nos esquemas de corrupção, os caminhos possíveis já estão determinados pela Carta Magna, tanto no trâmite ao qual o presidente deve ser submetido quanto nas regras para sua eventual substituição.”
Ou seja, nada de eleições diretas. Tanto por não ser um caminho previsto pela Constituição como, na visão de Rosana Felix, antecipar um processo que deve ocorrer no seu devido tempo, em 2018:
Com esta temperatura e pressão no Brasil, o melhor caminho parece ser uma eleição indireta. Sim, mesmo com o Congresso que temos. Um presidente eleito interinamente estaria sob o fogo cerrado da opinião pública, e não poderia desviar da função essencial de governar de forma republicana e democrática
Como provoca Rodrigo Constantino, bem a seu estilo, se for para rasgar a Constituição, talvez o melhor seja retornar à Monarquia. (ATENÇÃO: a frase anterior e o post linkado contém altas doses de ironia.)
Outro bom conceito a ser revisto no terremoto político é o clichê amarelado da “imprensa golpista”. Vira o disco!
O primeiro a ser comido
Será Aécio Neves, como preconizou Romero Jucá no republicano diálogo com Sergio Machado. O tucano acordou com a Polícia Federal na porta da sua casa. Foi afastado do Senado e teve pedido de prisão negado por Edson Fachin, que repassou a pauta para o pleno do STF. Ainda se licenciou da presidência nacional do PSDB.
Sua irmã, Andréa Neves, não teve a mesma sorte: foi presa. Andréa sempre foi a grande articuladora política de Aécio. O primo, Fred Medeiros, também foi preso. A Polícia Federal registrou fotos e vídeos de Fred recebendo dinheiro de propina da JBS.
Para completar o dia, Rede e PSOL protocolaram pedido de cassação do mandato de Aécio. E Aécio ainda viu vir à tona um diálogo gravado dele com Joesley Batista, em que se refere de forma chula ao ministro da Justiça, Osmar Serraglio, entre outras inconfidências do mineiro.
O segundo
Será Rodrigo Rocha Loures. O deputado federal chega hoje dos Estados Unidos. Desembarcará sem mandato, cassado por Fachin, e com um pedido de prisão preventiva a ser julgado pelo Supremo. Rocha Loures também foi fotografado e filmado recebendo propina.
Nas gravações, o braço direito de Temer se coloca à disposição de Joesley Batista para temas referentes ao Cade, Banco Central, Receita Federal, Procuradoria de Fazenda Nacional e CVM.
O mundo gira além da JBS
Donald Trump também está sob acusação de cometer crime, mas é improvável que caia. Caso isso aconteça, assim é o processo de impeachment nos Estados Unidos. E assim funciona o processo de impeachment no Brasil.
Aceleramos o novo Volkswagen Polo. E podemos dizer: prepare-se para uma mistura de tecnologia e sofisticação.
Ex-prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet curte o período sabático da vida pública com livros e filmes. E faz, para José Carlos Fernandes, um balanço da sua gestão.
Se você prefere um exílio mais distante, pode escolher um hotel no Caribe - com as crianças.
Dia da maldade
Se você está em Curitiba, pode desfrutar de um destes roteiros para que o máximo de contato com a JBS seja no prato de carne...
... Titãs, Ira e Supla tocam no fim de semana na cidade.
... Se a preferência for por algo quase tão arriscado quanto ser político no Brasil, tem Circo Vostok com globo da morte.
... O programa é com as crianças? Então combine pizza com espaço kids e Festival da Pizza Bom Gourmet. Não tem como dar errado.
... Se o objetivo é esquecer, tem uísque no Johnny Walker on the Road, na frente do Taj Bar.
... Mas, claro, nada de beber e dirigir. Os táxis vão ficar mais baratos - e competitivos com Uber e Cabify - após um decreto assinado pelo prefeito Rafael Greca.
Gazeta de ouvir
É lógico que a pedida da sexta-feira é ouvir o bate-papo de Michel Temer e Joesley Batista no sofá do Jaburu.
Este resumo é publicado de segunda a sexta-feira, sempre às 6 horas, e atualizado ao longo da manhã. Também é enviado por notificação para quem tem o aplicativo da Gazeta do Povo no celular (Android ou iOS).