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Se alguém contratasse uma pessoa para administrar a sua casa e, tempos depois, constatasse que ela não estava cumprindo o prometido quando se canditara à vaga, que as finanças estavam um caos, com dívidas no mercado, pagamentos de água, luz e telefone atrasados, equipamentos sem funcionar por falta de manutenção e, ainda por cima, lhe pedisse mais recursos para cobrir os rombos e equilibrar o orçamento doméstico, como reagiria?

Esperaria o contrato de trabalho encerrar ou a mandaria imediatamente - e com argumentos de justa causa - engrossar as estatísticas do desemprego?

Pois é mais ou menos isso o que acontece com o Brasil hoje. A presidente Dilma Roussef enganou os eleitores, produziu o maior déficit da história do País, os serviços públicos não funcionam ou funcionam muito mal, o desemprego sobe a cada dia, estamos em recessão, os investidores se retraíram por não confiarem nas políticas econômicas do Governo e ela quer aumentar impostos para tapar os buracos que ela mesma produziu nas contas públicas. Sua popularidade despencou, sua base no Congresso se fragilizou e mesmo os partidos que a apóiam já duvidam de sua capacidade de governar.

A presidente sabe que perdeu as condições mínimas de governar, quanto mais de nos tirar da crise

E só há dois caminhos institucionais para sair dessa situação: viver mais três anos de incertezas até o mandato da presidente se encerrar ou instalar um processo de impeachment, que manterá o País estacionado na crise atual e os debates políticos no centro das atenções por um bom tempo, quando todos os esforços devem se dirigir sem mais demora para a economia.

O Brasil não pode esperar e impor ainda mais sacrifícios à sua população.

Por isso, a meu ver, a presidente Dilma Roussef, num gesto de grandeza cívica, deveria renunciar (e o presidente da Câmara dos Deputados também).

Abreviariam os ritos processuais sem ferir qualquer norma legal, todos nós deixaríamos um pouco de lado os políticos e a política e voltaríamos nossa atenção para o trabalho com esperança e confiança no futuro. A presidente sabe que perdeu as condições mínimas de governar, quanto mais de nos tirar da crise. O Brasil só sairá da situação atual com um governo de coalizão nacional, com lideranças capazes de instituir uma espécie de “economia de guerra”. Nós precisamos de um governante que reúna prefeitos e governadores não para pedir que apóiem a volta da CPMF em troca de uma fatia do bolo de recursos: mas para firmar um pacto de não gastar enquanto as contas públicas não se equilibrarem. Nós precisamos de um governante capaz não de distribuir favores e privilégios a políticos em nome da governabilidade, mas de fazer com que os políticos o apóiem porque as propostas e os projetos que defende são bons para o Brasil e favorecem a sociedade e não indivíduos. Enfim, nós precisamos de um governante capaz de reduzir o tamanho do Estado, deixando-o compatível com os serviços que presta e a custos aceitáveis.

Pode parecer utopia imaginar um País assim, com lideranças assim. Talvez não se consiga chegar tão longe, mas não custa sonhar com a certeza de que qualquer situação futura será melhor que a atual.

João Elisio Ferraz de Campos, empresário, conselheiro do Instituto Ciência e Fé de Curitiba, e do Instituto Democracia e Liberdade, foi governador do Paraná.
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