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Editorial

O cerco se fecha

Aos poucos, a Operação Lava Jato vai fechando o cerco sobre todos os protagonistas da sangria a que foi (e talvez ainda esteja sendo) submetida a Petrobras. Nesta quinta-feira, 62 mandados começaram a ser cumpridos, incluindo prisões preventivas e temporárias. Um dos alvos é o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que tem contra si mandado de condução coercitiva – quando se leva alguém à delegacia para prestar depoimento, o que Vaccari fez no fim da manhã em São Paulo.

Segundo o procurador regional da República em São Paulo, Carlos Fernando dos Santos Lima, o objetivo do depoimento de Vaccari era conseguir informações sobre doações ao partido, legais ou ilegais, "envolvendo pessoas que mantinham contato com a Petrobras". Afinal, também nesta quinta-feira veio à tona o depoimento de um ex-gerente da estatal, Pedro Barusco Filho. Em novembro do ano passado, ele disse à Polícia Federal que, entre 2003 e 2013, o PT teria recebido entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propinas ligadas a grandes contratos da Petrobras, inclusive o da superfaturadíssima refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Vaccari foi nominalmente citado por Barusco como beneficiário de parte desse valor.

O ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, despistou e disse que o mandado contra Vaccari não constrange o governo. "Se houver algum envolvimento de alguma pessoa do PT, o PT vai ter que tomar as atitudes que têm de ser tomadas", afirmou, jogando a "batata quente" para o partido que ocupa o Planalto desde 2003 (ou seja, é o governo) e aparelhou furiosamente a Petrobras desde então. Estas são exatamente as peças que ainda não foram tornadas públicas no quebra-cabeças da Lava Jato. A operação começou com a prisão dos operadores, intermediários entre corruptores e corruptos. As etapas seguintes consistiram na ação contra donos e presidentes de grandes empreiteiras, ou seja, aqueles que teriam fornecido o dinheiro das propinas e doações. Falta, obviamente, conhecer aqueles – pessoas e partidos – que se beneficiaram desses recursos. São informações como essas que as delações de Barusco e de outros investigados estão ajudando a elucidar.

Aqui, é preciso ressaltar a forma como as investigações estão sendo conduzidas pelo juiz Sérgio Moro e por todos os órgãos responsáveis pela apuração do escândalo. Por maior que seja a avidez do público por saber os nomes de parlamentares e ministros que estão sob suspeita, essa curiosidade não pode ser satisfeita atropelando-se as instituições – o depoimento de Barusco, inclusive, foi divulgado por iniciativa do próprio Moro. Cabe ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, elaborar a denúncia envolvendo os detentores do foro privilegiado e encaminhá-la ao Supremo Tribunal Federal, que terá diante de si um trabalho igual ou maior que o do processo do mensalão, mais um desafio de vulto para a corte.

Aliás, não deixa de ser sintomático que tanto no mensalão quanto no petrolão estejam envolvidos tesoureiros do PT – Delúbio Soares no primeiro caso, e Vaccari Neto no segundo. No mensalão, a frase "o PT vai ter que tomar as atitudes que têm de ser tomadas", dita agora por Pepe Vargas, ganhou um significado muito peculiar: o partido rasgou o estatuto, que previa a expulsão de filiados condenados em última instância por "práticas administrativas ilícitas", mas não se contentou com isso: elevou seus membros na Papuda a "guerreiros do povo brasileiro", organizou eventos de desagravo e insultou o STF ao afirmar que eles foram vítimas de um "julgamento político". A cúpula do partido fará o mesmo caso alguns (ou vários) de seus membros graúdos forem implicados no petrolão?

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