A categoria dos economistas assumiu papel fundamental na formulação e execução de programas de desenvolvimento no transcorrer da etapa de constituição da industrialização pesada brasileira, que começou no segundo governo Vargas, nos anos 1950, e encerrou na administração Geisel, no segundo qüinqüênio da década de 1970, com a implantação dos projetos do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND).
Nos tempos recentes, é perceptível a ampliação da preocupação das entidades dedicadas ao ensino superior de Ciências Econômicas, e dos respectivos organismos de representação de classe, com o declínio da demanda por profissionais da área no mercado de trabalho do país. De fato, o encurtamento da participação do economista no quadro do emprego qualificado no Brasil repousa em duas ordens de compreensão e de explicação, intimamente atreladas.
A primeira delas corresponde a uma restrição de natureza geral, associada a uma sucessão de descalabros cometidos na gestão econômica brasileira, desde o final dos anos 1970, em clima de autoritarismo político até 1984, sintetizada na materialização de doutrinas focadas no cumprimento de objetivos de curto prazo, na rendição às regras neoliberais da globalização produtiva e financeira, monitorada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e, por último, na aplicação do regime de metas de inflação, atual disfarce do monetarismo.
Tais condutas suprimiram o privilegiado espaço das atividades subjacentes ao planejamento e ao poder de coordenação e de indução do estado, ou mais precisamente à montagem de estratégias públicas e privadas com prolongado horizonte temporal de maturação, típicas do economista.
O mais gritante, porém, é que o malogro das seqüenciais panacéias oferecidas à sociedade brasileira, anunciadas como imprescindíveis tanto à resolução dos problemas conjunturais quanto à impulsão dos patamares de bem estar comprometeu drasticamente a confiança nas fórmulas aplicadas - muitas das quais importadas de ambientes bastante diferentes do brasileiro e na reputação dos economistas que passaram a serem rotulados como "profetas do passado", dentre outros adjetivos pouco confortáveis.
Ao mesmo tempo, por manter o sistema produtivo em situação de quase permanente recessão, a orientação macroeconômica acabou por inviabilizar a criação de condições objetivas à retomada auto sustentada do crescimento e, o que é pior, comprimir a massa de rendimentos, inclusive da classe média, reduto da maior densidade de oferta de matéria-prima para a aprendizagem de nível universitário. Na mesma linha, as reformas estruturais acopladas ao cenário de inserção do Brasil em contextos (exógenos e endógenos) de acirramento da competição intercapitalista, oportunizaram substanciais modificações no perfil do economista requerido pelos novos mercados.
A par disso, o segundo eixo de entendimento da menor presença do economista na operação dos mercados e da perda do charme da profissão no país, equivale à ausência de aderência entre os currículos dos cursos de graduação e a realidade da demanda, em um panorama mais concorrencial, multidisciplinar e encaixado no paradigma da Terceira Revolução Industrial e da financeirização da riqueza. A distorção mais relevante compreende o predomínio de disciplinas voltadas à busca de construção de um "especialista generalista", detentor de profundos conhecimentos em quase todas as áreas, situação mais compatível com as etapas subseqüentes da formação.
Ao adotar esse tipo de postura, as escolas de graduação em economia praticamente abdicam da preparação de times com capacidade competitiva em um pedaço mais rasteiro do balcão de oportunidades (inclusive de concursos públicos), disputado por outros entes providos de conhecimentos mais encorpados em administração, contabilidade, legislação, finanças, matemática financeira, dentre outras áreas.
Por tudo isso, a superação desses constrangimentos à formação e à atuação dos economistas, e o resgate do "glamour" da profissão, em circunstâncias contemporâneas, passa, inevitavelmente, pela flexibilização das estruturas curriculares dos cursos, na direção da produção de um profissional mais próximo das exigências e especificações determinadas pela radical mutação verificada no mercado de ocupações, ao longo das últimas duas décadas e meia, alargando o terreno do segmento privado e encolhendo a demanda do setor público.
Para tanto, parece crucial a multiplicação de conteúdos multidisciplinares, dada a ampliação e diversificação dos espaços de trabalho comuns entre distintas categorias profissionais especialmente em meio ambiente, regulação e perícia , e a preservação organizada dos estoques e fluxos de conhecimentos propiciados pela retaguarda histórica, metodológica, estatística e social, característica da categoria dos cientistas sociais, da qual o economista faz parte.
A maximização da função social do economista também depende da restauração dos alicerces de um projeto de crescimento de longo prazo para o país, menos subordinado à poupança externa, mais voltado ao mercado doméstico e com maior grau de distribuição de renda e de inclusão social. As bases desse projeto foram perdidas em algum momento do passado, no qual o Brasil deixou de planejar, os "olhos de águia" cederam lugar às planilhas financeiras e economistas viraram peças secundárias nas tarefas de proposição e intervenção visando à conciliação entre otimização da eficiência produtiva e homogeneização do tecido social.
Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do Curso de Ciências Econômicas da Unifae Centro Universitário FAE Business School.
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