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Sínteses – A educação a distância deveria ser implantada no ensino básico?

O contato humano continua sendo essencial

 | Robson Vilalba/Thapcom
(Foto: Robson Vilalba/Thapcom)

Estamos passando por um momento especialmente delicado para o futuro da educação no Brasil. As crises econômicas efetivaram cortes em áreas sensíveis e historicamente precarizadas. Tememos, como professores, que a tentativa de implantação da educação a distância (EAD) no ensino básico substitua uma real intenção de melhoria do sistema de ensino. Consideramos que a proposta de implantação da EAD pelo governo se apresenta como uma forma de solucionar parte dos problemas econômicos, efetuando cortes nas áreas mais carentes e menos assistidas da sociedade.

É preciso, portanto, nesse momento, refletir sobre os impactos que uma possível substituição da escola física pela digital possa gerar para o futuro da educação. As premissas da EAD nunca foram pedagogicamente muito claras. Uma das justificativas básicas para esta modalidade está na ideia de democratização do acesso ao ensino. Tal ferramenta encurta distâncias, oferecendo formação continuada àqueles que não têm tempo ou recursos para estarem em sala de aula, bem como às localidades sem acesso à gama de cursos oferecidos pelos polos de EAD. No entanto, a premissa de facilitar o acesso à educação tem sido substituída pelo uso indiscriminado da educação a distância com vistas à diminuição dos custos, sem que haja uma reflexão mais profunda a respeito das complexidades envolvidas neste processo.

A premissa de facilitar o acesso à educação tem sido substituída pelo uso indiscriminado da educação a distância com vistas à diminuição dos custos

Nesse sentido, cabe um questionamento simples: se há lugares para os quais o Estado não consegue levar o básico – saúde, saneamento, água tratada, escola –, terá ele capacidade de chegar com espaços tecnológicos preparados para o bom desenvolvimento de um ensino digitalizado? Ou caberá às famílias, muitas delas em situação de vulnerabilidade, a responsabilidade de custear os equipamentos necessários para tal modalidade de ensino?

No mundo contemporâneo, as distâncias entre os indivíduos ironicamente aumentam à medida que a tecnologia objetiva diminuí-las. Temos acesso a todo e qualquer tipo de informação ao redor do mundo, bem como facilidade em nos comunicarmos com pessoas que nunca vimos ou nunca veremos. A frieza da comunicação digital altera, por sua vez, nossa noção de empatia, pois as relações, intermediadas pela virtualidade, tornam-se descartáveis pela facilidade que temos em “deletar”, “excluir” ou “bloquear”, apenas com um toque na tela.

Nesse sentido, a partir de nossa experiência docente, percebemos diariamente a importância do contato humano nos processos de aprendizagem. O confronto de ideias e o convívio com as diferenças – de temperamento, de gênero, de visões de mundo etc. – faz com que os alunos, ao mesmo tempo em que constroem sua personalidade, formem-se também como indivíduos a partir da experiência com o outro.

Do ponto de vista do aluno, o que ele aprende, aprende por si e pelas conclusões fomentadas pelos professores. Essas conclusões, por sua vez, são complementadas pelos anseios, dúvidas, dificuldades e reflexões de seus colegas de classe. Os professores realimentam este processo a partir dos questionamentos e demandas dos alunos, e também se reinventam, se reciclam e se transformam diariamente. Este ambiente de aprendizagem só é possível com o contato humano, no qual cada uma das partes diariamente observa melhor seus limites e suas potencialidades, a partir dos limites e potencialidades de seus pares.

A escola, apesar de constantemente questionada e ressignificada pelas novas modalidades de ensino, não deve perder aquilo que tem de mais precioso e talvez único: a capacidade de encurtar as distâncias, hoje tão contraditoriamente potencializadas pelos meios digitais.

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