Ultimamente, tenho escrito sobre "vida saudável". Gostaria de abordar novamente esse inesgotável assunto. Hoje isto é impossível. O povo brasileiro está perplexo e o momento exige que se fale, não de vida saudável, mas sim de política saudável, de respeito ao dinheiro público e da necessária luta contra a corrupção.
Não vou, aqui, julgar pessoas. Isto já está sendo feito pelos órgãos competentes a quem cabe punir os culpados.
Por isso vou apenas dar um testemunho pessoal com a experiência de quem tem 76 anos de idade e foi ministro duas vezes.
Vamos rememorar um pouco.
O aparente caos que estamos vivendo na política iniciou-se no dia 14 de maio deste ano, quando, em fita gravada por duas pessoas, o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, revela um esquema de corrupção na estatal que seria comandado pelo deputado Roberto Jefferson.
Marinho aparece na fita recebendo três mil reais de um empresário supostamente interessado num processo de licitação e colocando avidamente o dinheiro no bolso
Vou registrar, por serem muito oportunas, palavras do médico, filósofo e profeta do século XXI Deepak Chopra no seu livro "Como conhecer Deus", sobre a realidade de como transcorre nossa vida.
"Não há vítimas. Tudo é bem ordenado. Tudo acontece como deveria acontecer. Acontecimentos aleatórios são guiados por uma sabedoria superior. O caos é uma ilusão. Há uma ordem total em todos os acontecimentos. Nada acontece sem razão".
Portanto, não foi sem-razão que a fita foi gravada. Não foi sem-razão que um dos participantes da gravação entregou a fita à revista Veja. Não foi sem-razão que a revista Veja publicou o conteúdo da fita. E, finalmente, não foi sem-razão que os jornais e as televisões do país divulgaram amplamente o fato para o povo brasileiro.
E se a fita não tivesse sido divulgada? Será que o deputado Roberto Jefferson teria feito as denúncias que fez na entrevista da Folha de S. Paulo? Por isso mesmo, também não é sem-razão que a grande imprensa foi, é e sempre será nossa aliada número um na luta contra a corrupção.
O jornalismo investigativo é importante em razão das suas muitas contribuições à governabilidade democrática. Seu papel pode ser compreendido por atender ao modelo da imprensa do Quarto Poder. De acordo com esse modelo, a imprensa deverá tornar os poderes públicos responsáveis, publicando informações sobre questões de interesse público, mesmo se essas informações revelarem abusos ou crimes perpetrados por autoridades.
Hoje, eu até me pergunto se na visão do interesse público a imprensa não é, na verdade, o Primeiro Poder.
Pois bem!
O jornalismo investigativo, o Ministério Público, a Polícia Federal, a Controladoria Geral da União, o Tribunal de Contas da União, e finalmente os Tribunais de Justiça, cada um procura desempenhar sua parte nessa luta contra a corrupção, mas todos atuam depois da denúncia do possível desvio do dinheiro público.
Mas a quem cabe a responsabilidade de evitar esse desvio, de evitar a corrupção? Cabe àqueles que exercem função pública!
Servidores públicos do Executivo, do Judiciário e do Legislativo. E, mais ainda, a nós que fomos eleitos pelo voto popular para, antes de tudo, defender o bolso do nosso eleitor.
Pois nós sabemos, muito bem, que o dinheiro desviado na corrupção não é do governo. Ele é administrado pelo governo, mas pertence ao povo. Infelizmente tem muita gente que, por falta de formação de cidadania, ainda não percebeu que esse dinheiro desviado na corrupção sai do bolso dos contribuintes, sai do bolso de cada um de nós.
E o que mais a experiência me ensinou? Eu aprendi que só existem dois tipos de detentores de mandato popular: os que julgam que a política é uma missão nobre, cuja duração é determinada pela urna, e os que julgam que a política é um negócio como outro qualquer, uma profissão rendosa em que podem ganhar dinheiro.
Eu aprendi também que os missionários e os negociantes da política existem em todos os partidos.
Por isso, nos momentos de crise em que se discute sobre a ética pública, não se pode julgar partidos e sim pessoas.
E, afirmarei o óbvio: quem estimula a corrupção é o corruptor. Aquele que, prestando serviço para o poder público, oferece propina para o administrador desonesto e em contrapartida pratica o superfaturamento, isto é, aumenta o preço dos seus produtos ou de suas obras roubando o dinheiro do povo. Não é, pois, sem-razão, que quando o administrador público é honesto os preços diminuem.
Por outro lado, também aprendi que não se pode ignorar que os grandes negócios, o grosso do desvio do dinheiro público, se dá quando pessoas fazem um uso desonesto dos cargos do Poder Executivo.
Por isso eu insisto, presidente Lula! Não basta Vossa Excelência afirmar que é o mais honesto de todos, não basta discurso. Tem que haver ação. Vossa Excelência tem o dever, como chefe de governo, de comandar a luta contra a corrupção, se preciso, como afirmou, cortando na própria carne e não deixando pedra sobre pedra.
Presidente, não comprometa sua história afirmando, como se fosse uma pessoa ignorante, que as elites querem derrubá-lo do governo. O Brasil não é Cuba e nem Venezuela. Vossa Excelência não pode deixar de saber que o que move as lideranças econômicas é o lucro e não a ideologia.
As classes de menor renda podem estar decepcionadas, mas as elites apostam e querem a preservação do seu mandato. Presidente, ouça o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. Eles confirmarão tudo isso
Por outro lado, nós parlamentares, creio que em sua grande maioria, preferimos que Vossa Excelência seja julgado não pelo Congresso, mas, sim, nas urnas das eleições presidenciais de 2006.
Por isso dirijo-me aos missionários da política, àqueles que conhecem a nobreza de nossa missão pelo compromisso que temos com a ética.
Vamos aproveitar esse momento para fazer uma reforma da legislação eleitoral e partidária que tenha como objetivo principal facilitar ao eleitor a escolha de gente honesta para cuidar do dinheiro do povo.
O dinheiro do povo é sagrado.
Chega de corrupção!