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Carlos Ramalhete

O elefante na sala

Como já foi fartamente comprovado estatisticamente, o Brasil tem uma população majoritariamente conservadora. O discurso político, contudo, trata o conservadorismo como tabu; nenhum candidato pode se declarar conservador, nenhum candidato pode cortejar o voto conservador. A opinião da maioria está fora dos limites do discurso aceitável em nossos meios políticos.

Quando a isso se junta a persistência na política de algumas figuras que, em busca de poder, deslizaram fluidamente de apoiadores do governo militar a petistas desde criancinha, como Sarney e Maluf, o quadro fica ainda mais nonsense. A política tornou-se abertamente um balcão de negócios, em que a linguagem de esquerda e o apoio a medidas revolucionárias tremendamente impopulares servem de bilhete de entrada. Não pode ser eleito, não pode fazer campanha quem não defenda o que uma minoria ínfima de bem-nascidos considera "progresso". Bastou o candidato do PSDB paulistano criticar timidamente algumas das propostas mais impopulares de seu opositor para FHC trovejar, alertando contra a "perigosa" guinada conservadora que isto significaria.

Ora, um candidato a quem fosse permitido declarar-se abertamente conservador seria eleito como se estivesse concorrendo sozinho!

Mas não é possível. Qualquer discordância do discurso único dito progressista seria severamente punida. Quem ousasse dizer o que a maioria da população considera evidente seria jogado aos leões, tratado como pária, como monstro, comparado a Hitler, e por aí vai. Talvez chegasse mesmo a haver passeatas contrárias, contando com a ilustre presença da elite bem-nascida.

Esta esquizofrenia política, em que na busca do voto popular é proibido apelar à opinião do povo, faz da eleição uma espécie de concurso de miss, em que uma combinação de charme e critérios absolutamente irrelevantes (quantas leis novas Fulano propôs por mês quando era deputado?! Santo Deus, como se já não houvesse leis demais nesse país!) é empregada no lugar de uma disputa honesta de ideias.

Numa herança da tecnocracia dos militares, as propostas acabam sendo "investir nisso ou naquilo", "fiscalizar tal coisa", sem tocar no que faz da sociedade uma pólis: a visão comum que dela têm seus cidadãos. Esta – ou antes, a sua destruição – continua sendo o elefante na sala, o que todos sabem que está lá, mas ninguém pode mencionar. Não pode haver política onde a pólis é tabu.

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