Vivemos numa época em que todos têm voz. Ao menos em suas páginas das redes sociais. Compartilhamos nossos interesses, nossas fotos, nossa vida nessa sociedade cada vez mais conectada e tornamos o particular cada vez mais público. Em tempos de protestos, manifestações, prisões de mensaleiros e discussões sobre cotas raciais ou uso de animais em pesquisas médicas, uma coisa mais é compartilhada: nossa opinião.
Há quem diga que isso é uma coisa boa, que é um debate saudável. Em alguns casos, pode até ser que realmente seja. Em poucos casos. Na maioria deles o que vemos são pessoas atirando suas verdades publicamente no Twitter, no Facebook, no Instagram ou em qualquer outra rede social com o intuito de, além de mostrar sua opinião, mostrar-se superior àquele que tenha uma opinião divergente e alfinetá-lo.
Sempre que um tema polêmico vem à tona é bem fácil notar esse comportamento. Tomemos como exemplo as prisões decretadas dos envolvidos no mensalão e o Facebook. Você com certeza já viu alguma manifestação de alguns dos seus amigos, certo? Você foi contra o que ele escreveu? A favor? Opinou? É frequente notar em que uma aparentemente simples postagem (nem sempre inocente, vá lá) pode se transformar. Assim como um Dr. Banner que, quando irritado, se transforma em um monstro verde, parece que é só alguém contrariar uma opinião que soa o gongo e os Hulks da internet entram no ringue.
O que começou como uma expressão de uma opinião vira troca de farpas, ironias e, em pouco tempo, troca de ofensas e acusações. Os dois lados da briga, pois sempre há dois lados, se posicionam com suas melhores armas, geralmente não de defesa de sua opinião, mas de ataque a quem ouse discordar dela.
Instantaneamente todos se transformaram em sociólogos, estudiosos de política, economia, direito, biologia e o que mais for conveniente no momento. Geralmente sem ler nem um texto sequer sobre o assunto discutido. Tornam-se reféns de uma notícia picada ali, um resumo acolá, uma opinião de um jornalista extremista de cá, uma imagem de um site de humor dali e pronto: são especialistas.
O aumento do número de usuários do Facebook no Brasil (o segundo em número de usuários no mundo: um terço da população tem conta) e a popularização de smartphones contribuiu para esse debate. Para bem ou para mal. Cada vez mais opiniões são compartilhadas, sejam elas radicais ou não, embasadas ou não. Comumente recheadas de erros de português, elas pipocam na timeline diariamente, compartilhadas por amigos, defendidas por alguns e contrariadas por outros.
Não quero dar a entender que compartilhar sua opinião não seja uma coisa boa. É. E, claro, cada um tem a liberdade de postar o que bem entender em sua página. Seja foto de seu gatinho, de seu prato de comida ou sua opinião sobre a política nacional. O incômodo vem de quando esta opinião é o estopim, quando o palanque onde se está defendendo uma ideia se torna o ringue de batalha. Vem de quando esta mesma opinião é embasada em achismos e convicções políticas que, conclui-se, são suficientes para achincalhar quem pense diferente. É como se algumas pessoas se empenhassem bem mais em atacar quem é contra em vez de defender suas próprias ideias e justificar porque ela mesma é a favor.
Flávio St. Jayme, jornalista e empresário, é sócio-proprietário da agência Clockwork Comunicação.
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