Os painéis dos pontos de ônibus em Curitiba estão estampando propaganda institucional indicativa de que a indústria paranaense registrou o segundo melhor desempenho do país em 2005. Deixando de lado a peça publicitária, é inegável que, em menos de cinqüenta anos, o Paraná transformou-se de "terra de todas as gentes", que abrigava serrarias e fazendas de café, em uma economia industrial.
Em que pese o apreciável peso do agronegócio na base produtiva estadual, particularmente no setor industrial, as estatísticas econômicas do corrente ano vêm confirmando a pronunciada mutação do perfil manufatureiro do Paraná, construída desde a segunda metade dos anos 1970, interrompida na década de 1980, e resgatada no decênio dos 1990, motivada pelo efeito a combinação de alguns eventos ocorridos no país.
Por certo, o aprofundamento da abertura comercial, a reestruturação modernizante de empresas e processos, as privatizações, a desregulamentação dos mercados, a estabilidade inflacionária, a desconcentração industrial e a autonomia fiscal das unidades federativas conferida pela Constituição de 1988 desembocando na desenfreada corrida pela atração de indústrias por intermédio da oferta de incentivos de natureza tributária e financeira , ensejaram a renovação de programas voltados à alteração quantitativa e qualitativa do perfil industrial da maioria das unidades da federação.
O comportamento ainda que disforme da indústria brasileira no primeiro semestre de 2005, explicado em grande medida por fatores conjunturais, se reproduziu nas diferentes unidades federativas, expressando as novas peculiaridades, com enorme peso direto e indireto da indústria automobilística em São Paulo (além das divisões farmacêutica, edição e impressão e máquinas e equipamentos), Paraná, Minas Gerais (concatenada com siderurgia e metalurgia) e Santa Catarina (carrocerias para caminhões e ônibus).
A trajetória da produção de Goiás foi determinada essencialmente por alimentos e bebidas, a do Ceará pela indústria têxtil e do vestuário, a do Pará pelas indústrias extrativas e metalúrgicas, com ênfase para alumínio, e a do Rio de Janeiro, por veículos e petróleo, contrabalançada pelo decréscimo em metalurgia. A dianteira registrada pelo Amazonas repousou no prosseguimento dos incentivos fiscais ao pólo eletroeletrônico, sediado na Zona Franca de Manaus, particularmente a fabricação de aparelhos celulares. O destaque negativo coube ao Rio Grande do Sul, devido à interferência da estiagem nos segmentos de máquinas agrícolas.
A produção da indústria do Paraná fechou o primeiro semestre de 2005 com expansão de 8,0%, bastante acima da média nacional (5,0%), e ocupando o segundo posto no ranking nacional, atrás apenas do setor manufatureiro do Amazonas no período. Essa variação foi liderada pelos segmentos de veículos automotores (35,5%) e refino de petróleo (25,5%).
No caso de veículos, o desempenho pode ser explicado pela extraordinária impulsão das exportações de automóveis, em face do cumprimento de contratos celebrados em tempos de câmbio mais favorável. Já para petróleo refinado houve a influência da base estatística deprimida, representada pela paralisação técnica da Petrobrás durante dois meses, no segundo trimestre de 2004. Ressaltem-se ainda as variações positivas em bebidas (13,0%) e materiais elétricos (13,2%), resultado da recuperação da renda e da ampliação do crédito, respectivamente.
Como destaque negativo cumpre registrar as quedas verificadas nas indústrias de alimentos (-1,5%), química (adubos -34,2%) e madeira (-5,3). O recuo da produção madeireira pode ser atribuído à fraca performance exportadora, por conta do câmbio valorizado, enquanto os declínios em alimentos e química refletem a combinação desfavorável entre câmbio, elevação de custos, queda dos preços internacionais e quebra da safra agrícola por problemas climáticos.
Especificamente que diz respeito à interferência dos preços nos custos de produção do setor rural, vale sublinhar os aumentos nas cotações do petróleo e do aço no mercado internacional, afetando os ramos de adubos e fertilizantes e máquinas agrícolas, respectivamente.
Como se vê, de forma gradativa, a indústria paranaense vem se despojando de seus traços predominantemente agroindustriais, sem sacrifício de seu dinamismo, e, por extensão, da forte subordinação ao clima e ao curso do mercado mundial de commodities. Mesmo assim, a circunstancial trajetória ascendente do primeiro semestre de 2005 pode sofrer reversão, em razão do agravamento da defasagem cambial, comprometendo a rentabilidade das exportações, da redução da área plantada das principais culturas agrícolas com respingos na balança comercial e na inflação , e dos prováveis impactos da crise política, ainda não captados nos indicadores econômicos até o mês de junho.
Gilmar Mendes Lourenço é economista e coordenador do Curso de Ciências Econômicas da FAE Business School Centro Universitário.
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