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Opinião do dia 2

O Paraná e a desconcentração industrial

As estatísticas acerca da evolução das vendas industriais brasileiras entre os anos de 2000 e 2003, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam o prosseguimento de uma tendência de desconcentração geográfica da indústria no país, renovada desde a segunda metade da década de 1990, com o advento do Plano Real e a acentuação da abertura comercial, mas com características bastante aglomeradas em espaços pontuais do território nacional.

Os números do IBGE demonstram que o Paraná foi o estado que mais tirou proveito do ambiente propício ao investimento industrial neste intervalo. Isso porque o parque manufatureiro operante nos limites estaduais registrou expressiva elevação de participação nas vendas industriais brasileiras, que saltou de 5,9% em 2000 para 7,2% em 2003, praticamente empatando tecnicamente na quarta posição no ranking nacional com o Rio de Janeiro, que também ampliou sua contribuição de 6,6% para 7,4% no período em pauta, devido à maturação dos investimentos efetuados pela indústria de refino de petróleo. Entre os três primeiros colocados, São Paulo acusou decréscimo de participação de 46,4% para 42,5%, e Minas Gerais e Rio Grande do Sul exprimiram contribuição estável em 10,0% e 8,8%, respectivamente.

O substancial avanço observado pelo Paraná derivou do encaixe pleno do estado na desconcentração esboçada pelo país depois de 1995, determinada pela preferência das empresas em realizar inversões industriais fora do eixo saturado polarizado por São Paulo e privilegiar centros de porte médio e grande no Centro-Sul brasileiro, que desfrutavam de localização privilegiada no interior do macromercado constituído por São Paulo e pelos países do Cone Sul, eram dotados de infra-estrutura adequada e de mão-de-obra qualificada e ofertavam apreciáveis programas de incentivos fiscais, dada a permissividade do anárquico sistema tributário brasileiro.

Por cumprir com folga os requisitos colocados à mesa pelos investidores potenciais, o Paraná acabou assumindo um papel central no processo de tomada de decisão locacional dos novos empreendedores. Com isso, o estado ingressou numa etapa marcada pela agressiva atração de capitais produtivos em segmentos novos e modernos e pela expansão e modernização dos ramos considerados tradicionais, especialmente aqueles do agronegócio. O resultado disso foi a constituição do pólo automotivo, incluindo montadoras e fornecedores mundiais, a sofisticação do agronegócio, a ampliação da indústria madeireira e papeleira, a maior inserção na fronteira internacional, notadamente com o Mercosul, e o melhor aproveitamento das vocações e o desenvolvimento das aptidões regionais, sustentados na base infra-estrutural física e científica e tecnológica disponível.

A liderança exercida por atividades de fabricação de óleo diesel e adubos e fertilizantes na área de bens intermediários, de tratores e máquinas agrícolas, na indústria de bens de capital, e de automóveis, no parque de bens de consumo duráveis, corroboram a marcha de profundas alterações quantitativas e qualitativas do setor industrial paranaense nos anos recentes.

No fundo, ao ultrapassar os estreitos limites da conjuntura, as informações da Pesquisa Industrial Anual do IBGE comprovam as enormes oportunidades de crescimento existentes e pulverizadas por todo o Brasil. A otimização dessas forças no Paraná dependeria da resolução de um conjunto de problemas nada desprezíveis como a forte concentração industrial na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a reduzida integração local do complexo automotivo, o sumiço de grupos empresariais e marcas regionais, a continuidade da migração campo-cidade, o esfacelamento da retaguarda pública de fomento, a fragilidade fiscal do estado e a reduzida presença e influência política do estado na órbita federal. No entanto, o maior dos constrangimentos repousa na política macroeconômica de juros altos e câmbio baixo, mantida pelo governo federal na contramão da orientação dos países-âncora do crescimento mundial nos últimos anos.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do Curso de Ciências Econômicas da FAE Business School e autor do livro "Economia brasileira: da construção da indústria à inserção na globalização".

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