Há algumas semanas, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) disponibilizou o projeto de lei do novo Plano Diretor de Curitiba. Sem muito alarde, uma plenária expandida do Conselho da Cidade irá fazer neste fim de semana o último filtro antes do "OK" final por parte do prefeito depois disso, apenas a Câmara de Vereadores poderá propor alterações. O Conselho e a Câmara terão pouca margem de manobra para mudanças estruturais. Depois de um ano de debate, alguns pontos se tornaram consenso, outros já o são há muito tempo e sobre aqueles que não são, vai prevalecer a vontade do Poder Executivo (que fique claro, nada de diferente do que em qualquer outro lugar do mundo).
Mas o que está por trás da estrutura do Plano Diretor que foi apresentado? Para além de qualquer análise simplista é possível construir uma hipótese de que o plano vai consolidar algo que já é perceptível há quase uma década: o planejamento está cada vez mais deixando de ser o instrumento que a administração pública usa para definir como se dará o crescimento da cidade. E isso não é demérito do Ippuc, pois seus técnicos têm condições plenas para pensar a cidade. A questão central é que o Ippuc tem perdido espaço político dentro da gestão municipal. Perdendo espaço, deixa de ser prioritário nas decisões que influenciam como a cidade deve se desenvolver.
No projeto do Plano Diretor, são muitos os indícios desse movimento de esvaziamento do planejamento: o mapa de estruturação urbana, que define o desenho de cidade, está instituído como "não vinculante" ou seja, a prefeitura vai levar em consideração se quiser; o Plano Diretor, de forma surpreendente, deixa para outro plano o desconhecido Plano de Desenvolvimento Urbano Sustentável o trabalho de pensar na estruturação do crescimento da cidade; e ainda há a previsão de um ano de prazo para definir uma comissão para debater o início dos trabalhos.
Verdade seja dita, a revisão não é de todo ruim. A ideia de adensar as vias conectoras que ligam a CIC ao sistema estrutural é mais do que bem-vinda, pois vai ajudar a diminuir a pressão de urbanização nas franjas da região metropolitana e formar uma cidade mais compacta. O instrumento de redesenvolvimento urbano, apesar de ser uma faca de dois gumes, é importantíssimo para a prefeitura implantar projetos de grande vulto na cidade falta é definir exatamente que projetos são esses. O Estudo de Impacto de Vizinhança também é bem-vindo; a questão é se vão realmente regulamentá-lo, visto que ele já havia sido incluído nas modificações de 2004 e lá se vão 11 anos sem implantá-lo de fato.
A inundação de áreas centrais nos últimos dias por mais que São Pedro não tenha ajudado, é responsabilidade nossa nos planejarmos para o pior, o abandono da Praça Oswaldo Cruz, a transformação do restaurante popular em um aglomerado de floreiras, o fechamento de casas de apoio, o conflito que está se instalando para a implantação do binário Germano Mayer/Camões, o uso eleitoreiro que se fez do transporte público na última década e tantos outros casos são indicadores de que o planejamento que tornou Curitiba famosa no mundo inteiro começa a dar sinais de cansaço. O renascimento do planejamento "à la Curitiba" vai depender muito mais de um diálogo entre prefeitura e sociedade (com o objetivo de dar mais peso político ao planejamento) do que apenas da vontade do próprio Ippuc.
Juliano Geraldi, diretor do Instituto de Arquitetos do Brasil.
Dê sua opinião
Você concorda com o autor do artigo? Deixe seu comentário e participe do debate.