O Conselho de Arquitetura do Paraná vem participando da discussão do novo Plano Diretor de Curitiba em parceria com a Comissão de Arquitetura e Urbanismo da Câmara. Recentemente, o relatório final das discussões e propostas foi encaminhado para a prefeitura.
Dentre as sugestões reunidas em quase 500 páginas propostas por entidades de classe e pessoas que se interessam pela cidade, destaca-se a urgente necessidade da revitalização do Centro de Curitiba. Grande parte das intervenções dos participantes desse processo tem por diagnóstico os mesmos pontos frisados pelo editorial publicado pela Gazeta do Povo no último dia 12 de janeiro.
Há de se concordar com o editorial na maior parte dos aspectos levantados, mas também é preciso apontar que é o planejamento (ou sua falta) que promove a organização econômica urbana. Portanto, conclui-se que é a economia que determina o perfil do centro das grandes cidades.
Em Curitiba, de forma particular, como reconhece o editorial, a classe média motorizada abandonou o Centro, desenvolvendo novos hábitos de consumo facilitados com o incentivo ao uso do automóvel. Ao mesmo tempo, as camadas mais populares da sociedade, as que se deslocam pelo transporte coletivo, oriundas dos bairros e da região metropolitana, ainda ocupam esse espaço, forçando o comércio local a se adaptar ao novo perfil de seus frequentadores.
Atualmente, temos um grande número de pessoas em trânsito pelo Centro e que não ocupa verdadeiramente aquele território, mas consome o que está disponível no espaço que frequenta. Em suma, o Centro, hoje, apesar da já visível renovação, ainda é mais um espaço de passagem que de permanência. É o locus ocupado por lojas populares, no qual as moradias estão em desvalorização imobiliária há anos, pelo afastamento dos seus residentes para os bairros, locais supostamente mais seguros, espaçosos e tranquilos.
Vale lembrar também que a permanência dos órgãos da administração pública na área central da cidade é garantia da multidiversidade de atividades, fator fundamental para a reocupação e a revitalização do espaço urbano.
Assim, há de se exigir da municipalidade esforços para dar uma nova vida ao Centro da cidade. Mas dentro dos modernos conceitos de sustentabilidade. A começar pela diminuição dos deslocamentos e pela adoção da redução da emissão do carbono na região central (carbono zero), com a restrição da circulação de automóveis, ao mesmo tempo em que se dá vez às formas alternativas de transporte e deslocamento das pessoas, com calçadas e passeios para uso exclusivo de pedestres, e ruas para os ciclistas e transporte coletivo.
Paralelamente, há de se desenvolver os conceitos da economia criativa nessa nova ocupação, em que, na necessária recuperação dos imóveis históricos, façamos todas as adaptações para que o local de moradia também seja um local de trabalho, de diversão, entretenimento e arte, estimulando outra dinâmica econômica ao Centro da cidade, mas sem excluir a sua vocação comercial, conforme o próprio editorial da Gazeta deixa explícito, num novo modo de "viver junto".
Mas, antes de desenvolver esse "viver junto", temos de apostar num "pensar junto" que envolva todos os segmentos da comunidade curitibana. Numa ação que englobe desde entidades como o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná e a Associação Comercial do Paraná, e lideranças comunitárias e culturais da região, priorizando, obviamente, a participação dos moradores e frequentadores do Centro de Curitiba.
Por tudo isso, o CAU/PR vai continuar acompanhando a votação do novo Plano Diretor de Curitiba. Se pensarmos juntos nos próximos meses, certamente vamos ter como planejar essa nova convivência entre os espaços privados e públicos do Centro da nossa cidade.
Jeferson Dantas Navolar, arquiteto e urbanista, é presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU/PR).
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