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Depois de um fim de semana agitado por denúncias que pareciam colocar o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, no mesmo caldeirão da crise moral que atinge o governo, o país amanheceu a segunda-feira respirando aliviado diante do desvanecimento das preocupações quanto aos rumos da economia. À alta abrupta do dólar, à queda da bolsa de valores e ao crescimento do risco Brasil, que agitaram a sexta-feira por conta do depoimento ao Ministério Público do ex-assessor Rogério Buratti, um boquirroto de baixa estatura, sobreveio ontem a calmaria. Tudo voltou à normalidade, e a economia passou, como antes, a navegar no mesmo mar tranqüilo em que se manteve ao longo desses três convulsionados meses de crise política.

A mudança positiva se operou rapidamente por vários fatores, mas, sem dúvida, o principal deles foi a imediata, convincente e serena reação do acusado, o próprio ministro Palocci, que, em nota oficial e em entrevista coletiva concedida no domingo, conseguiu desmontar as denúncias que o atingiam. Valeu-se exclusivamente do patrimônio de credibilidade de que é possuidor. Não precisou culpar a oposição, não jogou a responsabilidade no colo das elites – como tem sido moda ultimamente – e nem precisou referir-se aos indefectíveis delúbios e valérios como repositórios de todo o mal. Bastou-lhe a própria palavra – contra a qual até agora ninguém pode lançar dúvidas.

Outro fator que pesou a seu favor e a favor da recolocação da economia nos trilhos é a boa vontade de todos os segmentos mais responsáveis da sociedade brasileira, daqueles que reconhecem não ser recomendável botar fogo no circo. A ninguém interessa – sejam as chamadas elites, sejam as camadas populares – ver a economia, único setor ainda não contaminado pela desconfiança, submergir no lamaçal. Duvidar da palavra do ministro e querer enxergar nas insinuações e aleivosias do seu ex-assessor significa colocar perigosamente em risco a continuidade da única política do atual governo que tem se mostrado realmente eficaz para promover a recuperação do país. Não por outra razão, a mais aguerrida oposição e mesmo os que criticam os rumos da política econômica manifestaram imediato apoio a Palocci.

Para tranqüilidade geral, é necessária a manutenção do ministro no cargo, a despeito de seu gesto de grandeza de colocá-lo à disposição do presidente. Lula não aceitou a oferta e, em resposta, deu-lhe publicamente o prestigiamento devido: "[o ministro] mostrou a segurança de um homem que sabe que não vai permitir, em hipótese alguma, que a economia brasileira sofra qualquer abalo. Eu acho que o Palocci deu a resposta que o Brasil precisava ouvir. Acho que ele mostrou a tranqüilidade de um homem que sabe o quer e, portanto, nós vamos tocar o barco", afirmou ontem de manhã em seu programa semanal de rádio. E este é também o sentimento de toda a opinião pública.

O comportamento da economia está fundamentado na credibilidade do seu principal gestor. Desgastá-lo, colocando-o no mesmo balaio dos malfeitores que atiraram o país numa das piores crises de sua história, é ser contra o Brasil. Pelo contrário, deveria ser prática comum o exemplo de clareza e transparência dado por Palocci, única atitude capaz de calar especulações e sepultar conseqüências. Com certeza, o país já teria vencido esta crise paralisante que o angustia há tantos meses.

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