Numa resolução de 13 itens, aprovada por unanimidade, a Executiva Nacional do PT iniciou o que chama de "reação ao golpismo midiático que pretende inviabilizar o mandato legítimo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", dirigindo fortes críticas à imprensa e à oposição. O documento fala em processo de "criminalização do PT" e diz que os petistas não podem "assistir a esta formidável chantagem pública contra sua existência, que hoje alcança uma dimensão manipulatória só semelhante àquela que elegeu Collor em 89".
Para a direção do PT, o momento aponta para um "festival denuncista com finalidades claras". Tais finalidades, segundo a cúpula petista, são "excluir o PT do cenário político nacional, esmagar as esperanças de que partidos de esquerda podem governar com sucesso e fazer povo esquecer a corrupção sistêmica que eles (a oposição), como elite, implantaram historicamente no país." A teoria conspiratória, lançada pelo ex-ministro José Dirceu e repetida no palanque do presidente Lula, rebrota com novo vigor.
O documento do PT pode parecer surrealista. Mas não é. Trata-se, na verdade, de uma peça de notável coerência. A ética do PT é a ética do poder a qualquer preço. O fim justifica os meios. Daí o despudor com que se mente nas CPIs e a tranqüilidade com que, mais uma vez, se investe contra a imprensa, instituição básica da sociedade democrática. É curioso, caro leitor, como o pragmatismo político acaba unindo os contrários. O vitimismo do ex-prefeito Paulo Maluf se aproxima, e muito, da síndrome conspiratória petista. Sentem-se, malufistas e petistas, perseguidos pelo Ministério Público e pela mídia. Ambos, no fundo, convergem para um denominador comum: o afã de poder. Independentemente de quaisquer balizas ou limites éticos. Há no Partido dos Trabalhadores, como é lógico, pessoas sensíveis e com valores. É uma pena que suas vozes não sejam ouvidas e que prevaleçam os critérios da práxis.
Há menos de dois meses, o presidente do PT, Tarso Genro, num discurso firme e moralizante, prometera promover a "refundação" do partido. Ora, a expressão indicava a consciência da extrema gravidade da situação. O PT chegara ao fundo do poço. Agora, Genro, redator da recente resolução de contra-ataque, afirma que o partido é vítima de "chantagem pública" promovida pelo "golpismo midiático". A autocrítica foi substituída pela urgente necessidade de "iniciar mobilizações regionais articuladas" para "esclarecer a opinião pública sobre os objetivos dos denuncismos em curso, inclusive estabelecendo diálogo com órgãos de comunicação que não estejam inseridos voluntariamente nesta campanha de massificação totalitária da opinião contra o governo Lula e o PT". Quer dizer: a proposta de "refundação" foi arquivada. O PT continua imaculado. Tudo não passa de uma armação da mídia, do Ministério Público e das elites. E, ademais, se quisermos estar bem informados não devemos ler este ou qualquer outro jornal, revista ou telejornal dos grupos chamados conservadores. A Voz do Brasil pode ser a solução. Eis a receita do PT. É fantástico, caro leitor, mas é assim.
A cúpula petista está subestimando duas coisas: a inteligência do povo e a força da democracia brasileira. Alguns caciques do partido comportam-se com a mentalidade que, há décadas, têm dominado a política nacional. Daí a boa convivência com os inimigos do passado. Daí o vale-tudo em nome da governabilidade.
O ataque ofensivo à imprensa é uma clara demonstração de fraqueza. Sabem, no fundo, que os indícios de crime praticados por inúmeros integrantes da agremiação acabarão se transformando em evidências irrefutáveis. É só uma questão de tempo. Na verdade, o partido está desabando. O país, queiram ou não os poderosos de turno, está virando uma página de sua história.
A transparência informativa, que a cúpula do PT não gosta, representa, contudo, o elemento essencial para a renovação do Brasil. O eleitor, certamente frustrado, vai ganhando crescente discernimento. O ostracismo das urnas já será uma grande passo, mas não basta. A conseqüência do delito, independentemente da ideologia e da manipulação semântica das velhas raposas, deve ser a punição cabal e exemplar. A imprensa, no cumprimento de sua missão de informar, não frustrará a expectativa de milhões de brasileiros. Buscará a verdade. E nada mais.
Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, é professor de Ética da Comunicação e representante da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra no Brasil, diretor da Di Franco Consultoria em Estratégia de Mídia Ltda.
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