Em poucos dias teremos eleição, quando a população escolhe entre candidatos e elege partidos.

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Pouco se fala nisso, mas na legislação eleitoral brasileira o cargo conquistado pertence ao partido, não ao eleito. As campanhas são pessoais; mais pessoais, impossível. Cada candidato explicita suas propostas, faz suas promessas, beija pessoalmente as bochechas de centenas de criancinhas. Mas o cargo não é dele. É ele que é escolhido; a população percebe a eleição como sendo a escolha de um candidato.

O voto dado, contudo, vale mais ou menos de acordo com o coeficiente eleitoral do partido. Um candidato que pertença a um partido pequeno – leia-se um partido que já não esteja no poder – precisa de muito mais votos que um que pertença a um partido grande. Um candidato que tenha uma votação substancial por ter sido pessoalmente escolhido pelo eleitorado – como o falecido Enéas ou o Tiririca – leva consigo vários candidatos, por fazerem parte do mesmo partido. No seu auge, Enéas levou à Câmara dos Deputados candidatos que não teriam votos suficientes para um cargo de síndico num condomínio maiorzinho. Quem votava nele – "meu nome é Enéas!" – votava, na verdade, no partido dele.

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Se o candidato mudar de partido após ter sido eleito, mesmo que tenha sido ele o "puxador de votos", perde o mandato proporcional. Se ousar ir contra as ordens da direção do partido, pode ser expulso e perder o cargo, que é do partido; o candidato, afinal, é apenas a embalagem.

Se houvesse partidos de verdade, distintos uns dos outros por uma visão da sociedade e por um programa político, já haveria um descompasso entre a teoria partidária e a prática personalista. Com os partidos sendo, como são, simples mecanismos de divisão de poder, a situação se torna crítica. Sem perceber exatamente o que a torna assim, mas percebendo haver algo de errado, muitos votam, como protesto, em palhaços. Foi o que valeu a eleição do Tiririca – e de candidatos pouco votados de seu partidos, vários deles protagonistas de escândalos em mandatos anteriores.

O voto de legenda, bem como a divisão da propaganda eleitoral dita gratuita, são mecanismos de perpetuação no poder. São maneiras de evitar que quem está no poder o perca, de evitar sangue novo na política.

Ao votar, olhe com atenção os dois primeiros dígitos do número daquele candidato tão simpático; ele é a embalagem, apenas. O seu voto é do partido que esses dígitos identificam. Veja a atuação não apenas do seu candidato, mas de toda a máquina de que ele é a fachada.

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