• Carregando...

Tudo indica que o segundo mandato de Obama terá como uma importante diretriz a atração de investidores do mundo inteiro

Quando Barack Hussein Obama ganhou sua primeira eleição para a Presidência dos Estados Unidos, havia grande esperança de que ele fosse um reformador. Sua origem humilde, o nome mulçumano e o fato de ser o primeiro negro a governar o país eram, ao mesmo tempo, uma bênção e um fardo. Uma bênção porque poucos anos antes era impensável que um candidato com tais características tivesse chance de ser candidato por um dos partidos. Um fardo porque Obama herdaria o país em situação dramática, vindo de três tragédias: a crise financeira de 2007/2008, as guerras do Iraque e do Afeganistão, e a explosão da dívida pública.

A herança de Obama era agravada pelos déficits gêmeos: o déficit fiscal anual (que se aproximava de 10% do Produto Interno Bruto) e o déficit comercial do país com o resto do mundo. O novo presidente – visto na época como uma espécie de messias – prometia a reversão da crise, o crescimento econômico, a justiça social interna e a expansão da paz no mundo. As expectativas exageradas sobre o novo presidente prenunciavam frustrações, pois Obama podia ser competente e bom, mas não estava imune às limitações políticas e econômicas.

A realidade se impôs e Obama amargou quedas expressivas em sua popularidade. A gravidade da crise norte-americana e o gigantismo dos problemas, ao lado da enorme expectativa gerada por sua eleição, fizeram o presidente amargar a descrença da população em relação à capacidade de o governo cumprir o que dele se esperava. As expectativas eram irracionais e incompatíveis com a situação do país, mas o próprio Obama se encarregou de alimentar a percepção popular sobre seu messianismo, talvez até mesmo como estratégia eleitoral. A fatura veio cara e o presidente quase perdeu a reeleição para um candidato normal e sem a aura de reformador.

Quando Obama assumiu seu primeiro mandato, ele herdou da gestão anterior – e manteve – um plano em andamento para reverter a crise econômica. Vários economistas alertaram para o rombo que as medidas de salvação deixariam nas contas públicas, cuja marca mais expressiva era a explosão da dívida pública. Mas, não dispondo de alternativa menos dolorida, Obama manteve o plano e o governo dos EUA chegou a 2012 com uma dívida próxima de US$ 15 trilhões, praticamente igual ao PIB de um ano. É um patamar nunca antes alcançado pelo país e que vem minando a capacidade fiscal do governo, sobretudo porque anualmente o orçamento vem apresentando um déficit beirando os 10% do PIB.

Obama recebeu um novo mandato dos eleitores norte-americanos – muito mais porque seu oponente não tinha nada melhor para oferecer e porque ele ainda carrega um saldo da aura de homem bom e político honesto em seus propósitos. Os maiores desafios do presidente continuam no campo da economia, cujos alvos mais importantes são o crescimento do PIB e a redução do desemprego. Desta vez, porém, o país não poderá mais financiar seu crescimento tomando dinheiro emprestado do resto do mundo; pelo contrário – espera-se que o governo entre numa fase de redução do déficit fiscal anual e uma trajetória de redução da dívida pública como porcentual do PIB. Como agravante, há o fato de a China sozinha ser credora dos Estados Unidos em US$ 1 trilhão, o que, para alguns analistas, enfraquece o poderio norte-americano perante o gigante asiático tanto em termos econômicos quanto políticos.

Para crescer e, ao mesmo tempo, reduzir o déficit do governo, o país dependerá do desempenho do setor privado e, por isso, o ambiente institucional favorável ao investimento privado nacional e estrangeiro deverá ter como princípio a remoção dos obstáculos aos negócios e aos empreendedores. Tudo indica que o segundo mandato de Obama terá como uma importante diretriz a atração de investidores do mundo inteiro, o que sugere uma competição forte com os países emergentes pelos capitais financeiros globais.

Nesse ponto está um recado para o Brasil: se o país quiser crescer e atrair capitais privados estrangeiros, os obstáculos legais à implantação de negócios em território nacional devem ser suprimidos e a legislação de incentivos ao investidor privado deve ser melhorada urgentemente. O Brasil precisa entender que, nesse aspecto, os Estados Unidos são, agora, um grande concorrente – e lá, o ambiente institucional favorável ao investimento é muito superior ao do Brasil.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]