Olhando a natureza

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Fomos a São Paulo para levar o Pedro ao Antonio Macedo Junior, uma autoridade em urologia pediátrica. Já esperávamos a ladainha de sempre; uma guia para fazer um exame e um retorno, quando ele leria o resultado para nós. Ao contrário, tivemos uma aula sobre como enxergar o problema. Em vez de ler um exame, ele nos ensinou a ler nosso filho através de sua experiência profissional.

De lá, viemos para uma praia aonde venho desde criança. Aqui há um morro que acompanho com fotos há 15 anos. Dá para aprender muita ecologia simplesmente seguindo a evolução da floresta ali. É muito interessante ver a atenção dos alunos aos poucos se fixando nos aspectos mais importantes, conforme vamos destrinchando o morro em aula.

Um bom diagnóstico, seja na natureza ou no corpo humano, é resultado de um olho treinado, e não há engenho de busca na internet que resolva isto. A internet é boa para responder, é o melhor compêndio já feito, mas só a experiência é capaz de perguntar. Sem experiência, não sabemos perguntar.

É curioso também como o objeto muda conforme o olhar. A maravilhosa canção Dindi, de Tom Jobim, foi na verdade feita para um morro. Assim como você, também achei que fosse o apelido de uma mulher. Onde eu e você vemos um morro Jobim viu uma música. Nem quero conhecer este morro de Petrópolis, provavelmente igual a todos. Ele só é especial através da visão do gênio.

Nossos profissionais estão dependentes demais das engenhocas, que realmente enxergam, cheiram e ouvem muito melhor que nós, mas custam e demoram também muito mais. Não é possível fazer todos os exames para todos os casos, testando todas hipóteses.

Esta não é uma conversa de velho, do tipo "os profissionais de hoje não vivem sem computadores". Não se trata de uma escolha, mas de complementação obrigatória. Para ser um bom profissional é necessário usar as ferramentas modernas junto com as antigas. As antigas servirão para excluir possibilidades e apontar direções. As modernas, mais precisas, respondem a perguntas específicas.

Quantos alunos de Agronomia sabem distinguir um solo fértil pelo cheiro e pela cor? Precisa de análise de solo para uma hortinha de fundo de quintal? Enquanto não inventamos aquele scanner corporal de Jornada nas Estrelas (que terá também uma versão ampliada para florestas), continuaremos dependendo de profissionais com a experiência do Antonio para saber o que perguntar ao computador.