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O fiasco brasileiro no esporte internacional é uma consequência natural de nossa maneira de ser.

Não seguirei agora com um rosário de críticas ao jeitinho brasileiro. Ao contrário, o jeitinho é a solução possível para nosso complexo modo de vida. "É muito complicado ser brasileiro", me disse um casal de estrangeiros que pajeei na Mata Atlântica recentemente.

Também não reclamarei da multiplicidade de papéis que tenho de desempenhar; contador, psicólogo, motorista de táxi, engenheiro etc. para tocar uma vida mais ou menos normal, mas tudo isso me faz compreender por que não corremos tão rápido ou saltamos tão alto. Se a competição incluísse, por exemplo, conhecimentos sobre os filtros da piscina, orçamento do clube, politicagem dos cartolas, articulação com os patrocinadores, seríamos medalha de ouro em todas as modalidades.

Somos uma nação de renascentistas, de Leonardos da Vinci vivendo em um tempo em que a enorme competição em cada um dos campos faz empalidecer o brilho conjunto que ele teve em tantas e variadas áreas.

Lembro muito disso quando passo temporadas no mundo anglo-saxão e tenho o prazer temporário de ter somente uma ou duas preocupações. Digo "temporário" porque rapidamente sinto saudades de minha brasilidade renascentista. Aliás, eu ocuparia uma outra coluna contando o que já fiz nos intervalos entre um parágrafo e outro.

Este é um recado importante que o Brasil teria para a gestão ambiental. A divisão do trabalho é causa de um sem-número de problemas ambientais, onde cada um faz a sua parte e ninguém se preocupa com o todo. "Meu trabalho é produzir baterias (ou comida, móveis, etc. etc.) e dos resíduos de chumbo (ou agrotóxicos, DBO, etc. etc.) outros cuidarão." E, infelizmente, assim como os brasileiros na Olimpíada, aqueles que se preocupam com o todo, com as consequências ambientais de cada uma das atividades, ficam atrás porque não têm, e não têm mesmo como ter, brilho em cada uma das atividades individuais.

Talvez o caminho para nosso país exportar esta visão ampla e renascentista seja lembrar os ideais olímpicos que tentam limitar a profissionalização do esporte. Em sua origem grega o esporte era um meio de aprimoramento pessoal e não um meio de vida. O único problema é que são os donos da bola aqueles que decidem quando e como vai ser o jogo.

Ao criar seres humanos que precisam ser pajeados em quase todos os aspectos de sua vida estamos indiretamente criando a origem de todo mal ambiental. Felizmente, meus amigos anglo-saxões nunca lerão esta coluna...

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