Participei de uma reunião com líderes empresariais e políticos cujo objetivo era discutir se o estado e a prefeitura devem ou não colocar dinheiro público em estádios privados, em face da Copa do Mundo no Brasil. Nessas reuniões, tenho o hábito de ouvir calado e ser um dos últimos a falar. Isso me dá duas vantagens: quando falo, já sei a opinião dos outros; e, por ter ficado quieto, tenho o direito de ser ouvido.

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Comecei dizendo que, em relação a temas cujos fatos podem ser facilmente verificados por estudos e pesquisas, incomoda-me debater apenas com base em opiniões pessoais. Alguém havia afirmado que, por causa da paixão pelo futebol e pela Copa do Mundo, a população aprova o aporte de dinheiro público em estádios privados. Perguntei como ele havia chegado àquela conclusão, se a população foi consultada e se havia pesquisas validando tal afirmação. Não havia nada.

Como diria Roberto Campos, todos temos direito às nossas próprias opiniões, mas não aos nossos próprios fatos. Em assuntos de gosto pessoal, vale a opinião. Mas em questões objetivas, ou temos as informações e os fatos, ou temos apenas hipóteses. Afirmações alicerçadas em verificação e estudo são fatos; caso contrário, é achismo, é chute. O filósofo Epicuro dizia que, em se tratando de coisas mensuráveis, "a opinião é uma asserção ou declaração que tanto pode ser verdadeira como pode ser falsa".

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Há homens visionários capazes de empreender obras notáveis com base apenas em intuição, sem verificação de sua validade. Mas a intuição não é ciência, e tem seus limites. Alan Chalmers diz que "as teorias científicas são derivadas de maneira rigorosa da obtenção dos dados da experiência adquiridos por observação, comparação, repetição".

A mania de dar palpite na base do "achismo", sem pesquisar os fatos, é coisa de amador. O profissional toma decisões baseadas em conhecimentos e fatos provados, medidos e analisados. Opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas não têm lugar na ciência. A ciência é objetiva. Em um prédio de pesquisa na Universidade de Chicago há uma inscrição na fachada dizendo: "Se você não pode mensurar, seu conhecimento é escasso e insatisfatório".

Numa conversa de almoço, um sujeito deitou falação sobre de que os consumidores gostam e de que não gostam, o que leem e o que não leem, qual publicidade funciona e qual não funciona. Perguntei se ele tinha as evidências (estudos e pesquisas) provando a veracidade de seus argumentos. Ele disse que não. Reprochei dizendo: "você é um sujeito de muitas opiniões, mas de poucos fatos, e está mais para curandeiro que para cientista".

No caso da reunião sobre a Copa do Mundo, propus que fosse feita uma pesquisa, com método e amostra suficiente para ter validade científica, a fim de descobrir o que a população realmente pensa sobre a colocação de dinheiro público em estádios de futebol privados.

Opiniões não são fatos. Esse é o ponto. Certo dia, um assessor recriminou o líder soviético Nikita Kruschev, dizendo que ele estava indo contra os fatos, ao que o ditador respondeu: "Eu quero estar do lado dos fatos, mas eles estão contra mim; pior para os fatos". Há líderes poderosos, profissionais arrogantes e empresários presunçosos que se acham infalíveis e gostam de contrariar a realidade, até o dia em que a realidade se impõe e os fatos os colocam fora de combate e os retiram do poder.

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José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.