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O mercado dormiu, de quinta para sexta-feira, sonhando com um grande executivo, e acordou com um balde de água gelada no rosto. Aldemir Bendine, até então presidente do Banco do Brasil, foi o escolhido por Dilma Rousseff para substituir Graça Foster na presidência da Petrobras. Quem esperava um nome de maior competência e credibilidade entre investidores nacionais e internacionais ficou estarrecido com a escolha de alguém que já estava dentro da estrutura de poder do governo federal e que chega com algumas sombras na carreira, como o empréstimo concedido a uma amiga driblando regras do banco.

Os petistas também ficaram surpresos, mas por outros motivos: muitos deles esperavam ver o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, sucedendo Graça Foster – o que talvez fosse até pior. De qualquer modo, na mais benigna das hipóteses, o Planalto não tem a menor ideia do que está fazendo; na mais trágica, o governo está ativamente buscando a manutenção do sistema apodrecido que ele mesmo implantou para se banquetear às custas do que já foi um orgulho nacional.

Dilma poderia até alegar que não teve muito tempo para pesquisar – mas, neste caso, a culpa também é toda da presidente. Como afirmamos em outras ocasiões, havia muito tempo que as circunstâncias tornavam inviável a permanência de Graça Foster à frente da Petrobras. Dilma poderia ter iniciado uma transição tranquila meses atrás, mas em vez disso preferiu apostar na permanência da amiga e prestigiá-la. Assim, Dilma foi empurrando a situação até ela se tornar insustentável. E, mesmo assim, a presidente ainda propôs que Graça permanecesse no cargo até o fim de fevereiro, virtualmente demitida. A executiva preferiu renunciar de uma vez por todas, dando ao governo poucos dias para achar um substituto.

A busca por um nome de peso para assumir a Petrobras não seria fácil, é claro. O lulopetismo afundou a estatal em um mar de lama e incompetência. Corrupção desenfreada, obras superfaturadas, endividamento recorde, um plano de investimentos quase impossível de concretizar, aparelhamento político, balanços sem auditoria... Seria complicado encontrar quem aceitasse o cargo tendo tempo para conhecer a empresa e seus problemas antes de assumir, e seriam raríssimos os que aceitariam entrar nesse barco sem saber exatamente onde estariam pisando. Mas a nomeação de Bendine não pode ser vista apenas como consequência de uma transição apressada, como se o Planalto dissesse "não conseguimos achar ninguém melhor em tão pouco tempo, é o que tem pra hoje": essa é uma escolha típica do estilo Dilma de governar.

Não é irreal pensar que haveria executivos com um currículo respeitado e dispostos a assumir o desafio de reerguer a Petrobras, desde que se respeitasse uma condição chave: total independência para conduzir a empresa. Uma carta branca que, por exemplo, permitisse ao novo gestor combater o aparelhamento, substituindo apadrinhados por nomes de notória competência (do quadro da Petrobras ou trazidos do mercado); rever, na medida do possível, negócios desastrosos e o plano de investimentos; definir uma política de preços sem populismos; publicar com transparência os dados da empresa; e ter a liberdade de explicar ao povo brasileiro a situação real da estatal. Era disso que a Petrobras precisava, mas Dilma estaria disposta a tanto? A mesma Dilma intervencionista que está por trás de várias das decisões que ajudaram a empresa a cair ao nível atual? É claro que, para a presidente, seria muito mais fácil colocar no lugar de Graça Foster um exemplo do que os norte-americanos chamam de yes-man, alguém disposto a simplesmente acatar ordens. E foi o que ela fez.

Não é a nomeação de Bendine, nem a substituição de boa parte da diretoria que renunciou junto com Graça (o ex-presidente do PT José Eduardo Dutra não largou a diretoria de Serviços), que permitirá sonhar com uma Petrobras financeiramente recuperada e moralmente saneada – na verdade, trata-se do contrário: da perpetuação do sistema que destruiu a empresa. Até porque, ainda que a Petrobras tenha novos presidente e diretores, o Conselho de Administração da estatal segue como está, com nomes como os ex-ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, fiéis escudeiros de Dilma que se colocaram contra a transparência na recente reunião que decidiu a divulgação do balanço do terceiro trimestre de 2014. Em uma das nomeações mais importantes – se não a mais importante – deste início de 2015, Dilma errou feio. Se por incompetência ou por má fé, só o tempo dirá.

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