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Opinião do dia 2

Os dilemas do “PIBinho”

O agravamento da crise na Europa, a tímida retomada do crescimento nos EUA e os sinais de desaceleração na China são elementos de um cenário econômico internacional nada promissor neste e no próximo ano. Neste contexto, a divulgação do fraco desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre não apenas compromete as expectativas para o crescimento do PIB neste ano como também coloca em xeque a sustentabilidade de nosso padrão de crescimento.

Desde o fim do ano passado o governo já lançou sete pacotes com medidas de estímulo ao consumo e, mais recentemente, de elevação de seus gastos para aquisição de equipamentos como forma de promover o crescimento da demanda. Medidas deste tipo têm impacto de curto prazo, o que sustenta a expectativa de uma leve retomada do crescimento no segundo semestre. O alcance das medidas, no entanto, deve ser restrito. É cada vez mais difícil alavancar o consumo dado o crescente endividamento das famílias e a aquisição recente de bens duráveis. Em geral, não trocamos de geladeira ou fogão todos os anos.

O problema não é apenas conjuntural. Sua raiz é estrutural e encontra-se no nosso "modelo" de crescimento. Desde 2004 a expansão do PIB vem sendo sustentada pelo consumo das famílias, fenômeno viabilizado pela combinação de bons resultados no mercado de trabalho (com destaque para a redução na taxa de desemprego), da melhora na distribuição da renda e na expansão do crédito. No entanto, modelos de crescimento baseados em expansão do consumo têm fôlego curto, sobretudo quando não são acompanhados pela expansão nos investimentos, já que são estes que permitem, no momento subsequente, a adequada expansão da oferta.

O pacote lançado em 28 de junho, que propõe nova queda na TJLP e ampliação dos gastos do governo na aquisição de equipamentos, ainda que ajude no curto prazo, é incapaz de promover um novo ciclo sustentável de expansão do produto. Existe um relativo consenso entre os especialistas sobre a necessidade de ampliar o nível de investimentos, mas há divergência sobre o que pode ser feito para promover esta expansão, sobretudo em relação ao papel do Estado neste processo. Persistem, ainda que em menor número e importância, argumentos que sustentam a não intervenção, na crença de que o funcionamento do mercado resolverá o problema. No outro extremo, encontram-se aqueles que pregam a liderança do Estado na execução dos investimentos.

Perde-se com isso uma oportunidade de promover, em parceria com o capital privado nacional e internacional, mudanças profundas na infraestrutura econômica do pais. O Estado não precisa ser o executor (até porque não dispõe dos recursos necessários) para regular a atividade privada. O contexto de crise nas economias centrais, com retorno real negativo de uma ampla gama de ativos, poderia ajudar na captação de recursos e no encontro de parceiros dispostos a investir com menores taxas de retorno.

Enquanto o governo limitar suas ações de política econômica às medidas de expansão do consumo e de seus gastos, e não enfrentar o verdadeiro desafio de criar – em parceria com o setor privado – condições concretas para expansão dos investimentos, o Ministério da Fazenda estará preso no manejo das condições de curto prazo e ficará restrito a ser um "levantador de PIBinho". Ajuda, mas é pouco para uma das mais importantes economias do globo.

Marcelo Curado, doutor em Economia pela Unicamp, é professor associado do Departamento de Economia da UFPR.

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