A despeito da prevalência de uma retórica caracterizada pela autofagia, a evolução da economia e da sociedade paranaense esteve ligada, por diversas vezes, a um conjunto de slogans que fariam inveja aos profissionais de marketing da era do neoliberalismo. De fato, os mais antigos não esquecem da "terra de todas as gentes" dos anos 1950, ou do "aqui se trabalha", da década de 1960, centrado na construção da infra-estrutura de energia, transportes e telecomunicações.

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A história popular chegou a insinuar que, nos anos 1960, na divisa da Região Norte do Paraná com o estado de São Paulo (especificamente entre Assis e Primeiro de Maio), algum cidadão paulista bem humorado, teria respondido à propaganda do "aqui se trabalha", chamando a atenção, em uma placa publicitária, para o fato de que por lá "aquilo não seria novidade".

Conflitos e divergências à parte, é preciso reconhecer a riqueza de conteúdo implícita em tais iniciativas de criação de rótulos para as diferentes etapas de transformação da economia do estado, ainda que inseridos, em certos intervalos, em contextos políticos nacionais extremamente autoritários, como o prevalecente na época do Milagre Econômico (entre 1968 e 1973), determinados por tentativas de encobrimento dos problemas sociais do país por meio de induções do tipo "Brasil: ame-o ou deixe-o".

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Curiosamente, nos tempos recentes, o marketing do estado perdeu criatividade em perfeita sintonia com a redução da influência e presença política paranaense na órbita federal. Nunca é demais lembrar que a Refinaria de Petróleo de Araucária e a Cidade Industrial de Curitiba representaram frutos concretos de um articulado exercício de pressão política do estado junto à União, para a aprovação de projetos estratégicos aos interesses da sociedade local, incluindo, na maioria das vezes, o rompimento de verdadeiros oligopólios instalados no governo federal e a liberação de recursos para o financiamento dos programas prioritários. A derrubada do poder de mercado da Scania e da Mercedes-Benz para a entrada da Volvo no Brasil e, posteriormente, a inviabilização do projeto Volvo para o Rio Grande do Sul configuram exemplos práticos dessa ofensiva.

Depois dessas vitórias, a pobreza promocional do estado pode ser evidenciada por alguns episódios pontuais. Em 1988, em plena recessão brasileira, o Paraná chegou a ser considerado oficialmente um oásis, uma "ilha de prosperidade" que recebia uma indústria a cada três dias, pois o setor manufatureiro estadual seria o único que crescia no país, segundo pesquisa bastante questionável tecnicamente, por falta de representatividade amostral, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 1993, em meio à hiperinflação indexada brasileira, também a partir da interpretação equivocada dos números da produção industrial do IBGE (não atentando para a influência de uma parada técnica da Petrobrás em 1992, que comprimiu a base de comparação), o Paraná transformou-se num "Brasil que dava certo". O que dizer então da "terra dos 700 mil empregos industriais" gerados entre 1996 e 2002, por um ciclo liderado pelas montadoras de automóveis e seus grandes fornecedores mundiais, quando as pesquisas do IBGE chegaram a levantar mais de 450 mil desempregados no estado.

Na verdade, esse marketing de conveniências, privilegiando o acessório e negligenciando o essencial, sepultou qualquer chance de preservação de uma identidade regional ou de um projeto de desenvolvimento paranaense, com pronunciada propensão ao atendimento das prioridades locais. Nesse ponto, convém sublinhar que uma observação da história do Paraná permite a identificação do surgimento de uma série de marcas públicas e privadas, explicativas dos avanços econômicos registrados pelo estado, muitas das quais sucumbiram nos tempos de globalização.

Sem ser exaustivo, não há como negar a importância assumida no processo de desenvolvimento regional por organizações estatais como a Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar), o Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep), o Banco do Estado do Paraná (Banestado), o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), a Companhia Paranaense de Energia (Copel), a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), dentre outras. Em paralelo, inegável peso foi exercido por entidades privadas como Hermes Macedo, Móveis Cimo, Prosdócimo, Grupo Bamerindus, Batavo, Cocamar, Coamo, etc.

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A excessiva preocupação com o promocional e a ausência de compromissos políticos com a construção de uma gestão regional compartilhada entre os diferentes atores atuantes no espetáculo do desenvolvimento do estado, explica o sumiço de apreciável parcela dessas referências, diante dos ditames da internacionalização competitiva, impostos ao Brasil como forma de sobrevivência aos novos padrões de concorrência do mundo globalizado.

De acordo com a visão global, nesse ambiente, não haveria mais lugar para empresas regionais de gestão familiar, para o fomento econômico via bancos públicos e para a construção e manutenção de retaguardas infra-estruturais por conta do estado. Como resultado, o Brasil e o Paraná passaram a integrar um processo de industrialização desnacionalizada, desprovido de eixos de decisão domésticos.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do Curso de Ciências Econômicas da UniFAE – Centro Universitário – FAE Business School.