"O erro, caro Brutus, não está nas estrelas, mas em nós." (William Shakespeare, em Hamlet)
O tempo provoca nos homens, que realmente vivem, o fim do brilho dos cabelos ou da pele jovem, mas os compensa com o fim das ilusões tolas e dos enganos quase religiosos.
Um dos enganos prediletos da maioria dos homens é explicar sua própria infelicidade, ou os problemas de seu país, de forma simples e quase mágica, terceirizando sua responsabilidade como indivíduos ou como cidadãos. O culpado pode ser o pai, a esposa, o governo, o FMI, o imperialismo Ianque (Yankee), etc.
Tenho um bom amigo que, depois de mais de uma década de infeliz casamento, separou-se e, após temporária euforia, caiu em profunda tristeza. Curioso, perguntei-lhe: "Qual a razão para tanto sofrimento?". E ele respondeu: "Aquela maldita está me fazendo uma grande falta, pois agora já não tenho a quem culpar pela minha infelicidade".
Na solenidade de encerramento do Fórum Futuro 10 Paraná, ouvi o presidente Lula dizer: "No Brasil, os empresários culpam os políticos; os prefeitos culpam o governador; os governadores culpam o Presidente e, antigamente, estes culpavam o FMI. Agora, que já não temos mais acordo com o FMI, tenho que assumir a responsabilidade por nossa política macroeconômica".
Não posso negar, fiquei feliz por perceber que o Presidente assume a responsabilidade pela condução da política econômica do Brasil. Ele será, pois, justamente aplaudido ou condenado pelo seu acerto ou pelo seu erro. Os nossos verdadeiros inimigos vivem dentro de nós. Nossa incapacidade de assumir a inteira e total responsabilidade por nossa felicidade ou infelicidade é, sem dúvida, o maior de todos esses inimigos.
Nossa falta de seriedade com o dinheiro público, nosso pouco amor aos livros, nossa falta de coragem em assumir os destinos das nossas cidades, dos nossos estados e do nosso país, cobrando de todos e, principalmente, de nós mesmos, um comportamento ético e inteligente, completam o batalhão de nossos algozes.
O "jeitinho brasileiro", que alguns apontam como exuberância da criatividade nativa, também pode ser visto como resultado da nossa eterna necessidade de improvisar. Isto porque não sabemos planejar para longo prazo.
Organização! Disciplina! Leis para serem cumpridas! Credo! Isto não é coisa de brasileiro, mas parece coisa de alemão! A lei de Gerson de "levar vantagem em tudo" tinha que ser uma criação de um publicitário brasileiro.
Nem tudo está perdido, pois a famosa lei da eterna vantagem provocou, e ainda provoca, grande indignação na maioria da população brasileira. Esta indignação de brasileiros, conscientes e responsáveis, é a única arma que possuímos contra nossos verdadeiros inimigos. Apenas reclamar dos políticos já não resolve. Precisamos, isto sim, de forma legal e organizada, exercer nossa cidadania para a solução de cada um dos nossos problemas e para tirar da vida pública os desonestos ou despreparados. É desejável um Estado menor, mais enxuto, que gaste menos em custeio e mais com investimentos em educação, saúde, estradas, etc. Um Estado diferente do que se planeja para 2006, em que a previsão de gastos com 513 deputados e 81 senadores, e todo o aparato que lhes dá suporte, deverá consumir cerca de R$ 5,3 bilhões, enquanto toda a verba federal para o Ministério da Ciência e Tecnologia está prevista em R$ 4,8 bilhões. Os dados são oficiais e estão disponíveis na internet, no Senado Federal (Sistema SIGA) e no Ministério do Planejamento e Gestão. O dinheiro dos impostos que pagamos com o suor do nosso rosto merece ser mais bem aplicado. Mas não adianta só reclamar: é importante cada brasileiro falar com o vizinho, nos organizarmos e, juntos, pouco a pouco, mudar este país.
Oriovisto Guimarães é diretor-presidente do Grupo Positivo e Reitor do UnicenP - Centro Universitário Positivo.
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