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Como começou a crise? Qual a transgressão primordial que consegue manter escandalizada uma nação inteira há quase cinco meses? Foram os 3 mil reais embolsados por Maurício Marinho, ex-diretor dos Correios, ou as licitações fraudulentas, as comissões abiscoitadas pelos aliados do governo, o mensalão, o valerioduto, o delubioduto, as cuecas dolarizadas e o mensalinho?

A perversão primal radiografada no vídeo da propina exibido em maio tem nome e sobrenome: degradação partidária. Antes mesmo de constituídas as CPIs, à medida que cascateavam as revelações, consolidou-se uma certeza federal – a depravação começa e acaba nos estatutos partidários e eleitorais. O arremedo de democracia representativa que rege o país é o responsável pelo deprimente espetáculo que transformou a política neste show de imoralidade.

Não há república capaz de conviver com o futuro Partido Republicano que será parido a partir desta excrescência chamada PMR (Partido Municipalista Renovador). A recém-criada agremiação político-religiosa-mediática começou com o pé direito e já atraiu para as suas fileiras o vice José Alencar com a bênção do próprio presidente da República que designou para representá-lo na cerimônia de filiação o ministro-secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci.

O PMR é filho da Igreja Universal do Reino de Deus, a mesma que até hoje não conseguiu explicar os 10 milhões de reais escondidos num dos seus jatos. A poderosa seita estuprou o PL e agora que o glorioso liberalismo caiu em desuso parte para nova experiência ideológica na centro-esquerda, ao lado do Partido dos Trabalhadores.

Tudo isso aconteceu um dia depois do estrondoso triunfo de Aldo Rebelo na disputa pela cadeira de Severino Cavalcanti na presidência da Câmara dos "300 picaretas" (a expressão, data venia, é do presidente da República). Graças ao conluio entre os partidos dos cassáveis (PP, PL e PTB), a banda faminta do PMDB e o que restou da "pureza socialista" no PT, a reforma política prometida por Rabelo parece irremediavelmente adiada já nas primeiras horas do seu mandato.

Não poderia ser de outra maneira: o novo presidente da Câmara Baixa, além de ter sido eleito pelo baixo clero pertence aos quadros do PC do B que, apesar de honrado, não pode aceitar uma cláusula de barreira rigorosa porque condena-se à extinção. E uma cláusula de barreira rigorosa é essencial para moralizar a vida partidária, acabar com as legendas de aluguel e evitar futuros mensalões e mensalinhos.

Voltamos à estaca zero: em sua primeira entrevista, Aldo Rebelo declara peremptoriamente que não existe o "mensalão". Trata-se de uma miragem. Mas esta miragem obrigou o PT a encarar a maior crise da sua história. Disse Rebelo também que o governo nunca pagou propina para conseguir votos no parlamento, mas esqueceu que na véspera da sua eleição o governo que representa liberou 55 milhões para as emendas orçamentárias capazes de garantir a sua vitória.

Um dos parlamentares beneficiados foi Severino Cavalcanti, o seu antecessor que renunciou para não ser cassado, outro foi o pivô da crise, Roberto Jefferson, cassado porque denunciou e participou da prevaricação.

Essa dissipação patrocinada pelo governo, por coincidência, ocorre em seguida à magnífica exibição de disciplina proporcionada pelo partido do governo que em meio à crise ainda consegue mobilizar 300 mil militantes para decidir o seu futuro.

Para refundar-se o Partido dos Trabalhadores sabe ser rigoroso, para não afundar entrega-se ao pecado original.

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