A polêmica sobre a abertura de ruas hoje sem saída para melhorar o trânsito em algumas regiões da cidade de Curitiba vem opondo o direito dos moradores ao dos motoristas presos nos engarrafamentos. Conforme os princípios urbanísticos, o direito da maioria dos cidadãos deve prevalecer sobre o direito individual, embora nem sempre isso ocorra. Mas a questão vai além. Mesmo que a medida seja implantada, seus efeitos durarão pouco tempo. Com base nos dados do Detran-PR, é possível ver a evolução do número de veículos na cidade de Curitiba. No período de cinco anos, de junho de 2007 a junho deste ano, 242.702 novos veículos ganharam as ruas da cidade.
Segundo o Ippuc, a abertura de novos cruzamentos é a "solução para diminuir o tráfego em algumas regiões da cidade". As intervenções são importantes para melhorar a fluidez, podem até ocasionar alívio momentâneo, mas logo serão suplantadas por novos veículos. Em pouco tempo a situação estará pior e sem novas ruas para serem abertas.
O exemplo de São Paulo é emblemático. Para resolver o problema do trânsito foram construídas as marginais Pinheiros e Tietê. A ideia seria desviar o trânsito para um anel externo ao centro. Com a evolução do número dos automóveis, o trânsito ficou ainda pior. Foi implantado rodízio de veículos, construiu-se o Rodoanel, impediu-se a entrada de caminhões, construíram novas pistas nas marginais... E a cidade continua com o trânsito caótico.
Curitiba tem uma escala menor e a vantagem de seu planejamento urbano, com o trânsito pensado num sistema de vias trinárias, mas que está saturado nos horários de pico. É o momento de repensar as alternativas e fazer um planejamento para os próximos dez, vinte anos.
E a prioridade tem de ser o transporte público e de qualidade. A cidade tem condições de avançar em um sistema de transporte coletivo multimodal integrado, com trem, metrô, ônibus e bicicleta, que seja eficiente e atrativo a ponto de motivar o cidadão a deixar o transporte individual para situações específicas.
Um exemplo ultrapassado que se perpetua em Curitiba é a integração física via terminais de ônibus. Isso leva o usuário a ter poucas opções e gastar mais tempo. Com a evolução tecnológica, a integração eletrônica via "bilhete único", como se faz em São Paulo, é uma possibilidade de avançar, mesmo com pequenas ações. Mas é necessário pensar ainda na integração eficiente do sistema com a Região Metropolitana de Curitiba, em que sistemas mais rápidos, como metrô e trem, fiquem disponíveis para os moradores das regiões mais distantes do centro da metrópole.
Essas são apenas algumas medidas, mas o debate é mais amplo. Como pensar a cidade a partir de novas formas de mobilidade? Qual a combinação mais satisfatória? E quem tem o direito de tomar essas decisões? Os debates feitos até o momento estão contemplando os anseios da maioria da população?
As respostas não são fáceis, mas apontam para algumas direções. A primeira: a polêmica em torno da abertura de novas vias pode ser considerada paliativa. É necessário definir em torno de que lógica o sistema de mobilidade urbana deve girar. Além disso, pensar a cidade que queremos para o futuro é direito de toda a sociedade. Assim como a cidade cresceu, multiplicaram-se os problemas, mas também os interessados em debater a questão urbana e suas possibilidades na construção de cidades mais justas e democráticas.
Simone Polli, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR, é membro do Instituto Ambiens. Frédi Vasconcelos, jornalista, é sócio da Quanta Consultoria e Editora.
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