Embora expressando um desalento momentâneo, o povo brasileiro se prepara para comemorar as festas natalinas e de ano-novo com a renovação de otimismo sobre o futuro do país. Neste sentido, pesquisas de várias fontes indicam que a crise política não abalou a adesão popular à democracia: embora tenha se deteriorado a aceitação do atual governo, o cenário de proximidade das eleições gerais faz emergirem alternativas que reforçam a confiança nas instituições democráticas.
A deterioração das expectativas em torno da atual equipe administrativa foi apontada, entre outras fontes, pelo Fórum Econômico Mundial, que situa o início do desgaste acelerado nas revelações do ex-deputado Roberto Jéfferson sobre a cooptação ilegal de parlamentares para comporem a base de apoio ao governo o chamado mensalão. Nesta semana mais duas sondagens de opinião registraram o fenômeno de desgaste da liderança federal, que pode ter sido potencializado ainda pelos fracos resultados da economia apurados neste final de ano. Mas o processo pode ser estancado na medida em que o presidente Lula conseguir reorganizar seu dispositivo de gestão, em reunião marcada para esta segunda-feira.
O exame das pesquisas divulgadas na quinta-feira indica que a perda de confiança na equipe governamental foi mais forte nas regiões Centro-Sul e Centro-Oeste, enquanto o Nordeste e o Norte ainda continuam apostando no sucesso do presidente. Essa linha divisória confirma a existência dos "dois Brasis" de que falavam os professores franceses que ajudaram a fundar a Universidade de São Paulo; a saber, existem no país porções diferenciadas sob o aspecto sócio-político, embora não se possa falar em "áreas metropolizadas e grotões". Na realidade a queda de confiança no governo já vinha se manifestando desde outubro, com o referendo sobre as armas que documentou a crise de legitimidade enfrentada pelo grupo governante no seio da sociedade civil.
O que ocorreu foi uma deserção da classe média em relação ao governo, acusado de focar suas políticas na base da pirâmide sócio-econômica, com projetos para pobres, agricultores familiares e sem-terra, trabalhadores informais e similares. O senador Cristovam Buarque, um dos fundadores do PT, acha que o problema maior é a falta de um projeto de governo; o deputado e ex-ministro Delfim Neto critica a visão de "curto-prazismo" voltada para a valorização de segmentos financeiros em vez da produção.
O sociólogo Manuel Castells, espanhol radicado nos Estados Unidos, avalia que a rejeição ao governo se estende ao conjunto dos representantes políticos, embora ressalve a persistência de apego à fórmula democrática. O fenômeno faz urgir a reforma política, segundo queixa do presidente do Senado Renan Calheiros. Por isso as lideranças do Congresso deveriam superar resistências e aproveitar o período de convocação extraordinária agora aprovado para aprovar a essência dessa reforma que ficou faltando.
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