Espoucam no Brasil todo greves e paralisações no transporte coletivo, nos serviços públicos e nas universidades. Nos últimos meses, milhões de usuários de ônibus e trens em várias cidades brasileiras foram surpreendidos por paralisações inesperadas, piquetes, depredações, aos quais o poder público responde apenas com ameaças nunca concretizadas de multar os sindicatos por descumprir ordens judiciais... Até a próxima paralisação inesperada.

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Milhões de pessoas são prejudicadas, paralisadas em centenas de quilômetros de congestionamento; doentes e médicos não chegam aos hospitais, nem profissionais e operários aos seus locais de trabalho. Um caos repetido com monótona regularidade em São Paulo, Salvador, Recife, Rio etc.

As universidades federais brasileiras também estão em greve pela enésima vez, mantendo uma rotina já antiga de paralisações longas, provocadas pela absoluta falta de diálogo produtivo entre o governo patrão e os docentes e funcionários, empregados. Às vezes, por questões que, depois de consideradas resolvidas, permanecem sem solução ano após ano, aguardando apenas a próxima greve para aflorar. Outras, por inacreditáveis lambanças burocráticas, como essa medida provisória que conseguiu reduzir o salário dos médicos do serviço público pela metade, levando-os a entrar em greve com toda a razão do mundo. Feita a confusão e alcançado o impasse, corre-se para tentar uma solução tardia.

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Greves nos serviços públicos têm impactos colossais facilmente perceptíveis; a frequência e a sem-cerimônia com que são deflagradas contrariam um mínimo de sindicalismo responsável. E greves nas universidades têm um impacto social muito mais sério do que sugere um mero impasse evitável em negociações salariais. Agora mesmo e aqui mesmo, em Curitiba, sob nossas vistas, a UFPR está em greve e, com ela, o Hospital de Clínicas. Ocorre que o hospital não é apenas uma dependência universitária, pois responde por quase um quarto de todos os atendimentos médicos em nossa cidade. Quando o HC entra em greve, quem sofre não são os alunos e suas famílias, que terão seus anos letivos bagunçados e suas formaturas adiadas; quem paga pela greve é a população, que se vê privada do único centro gratuito de excelência em saúde. Exames, consultas, procedimentos marcados com meses de antecedência são adiados e cancelados; doentes que não podem esperar porque a gravidade de seu estado exige intervenção imediata morrem por falta de assistência. Transplantes complexos são adiados sine die porque as equipes estão desfalcadas e as condições de apoio técnico desaparecem.

Os dois lados têm a obrigação de pensar nisso. As artimanhas do destino podem fazer de um empedernido burocrata público de hoje um paciente de amanhã, necessitando de um hospital universitário paralisado. Um filho ou um parente querido de um sindicalista radical não está livre de ficar bloqueado no trânsito a caminho de um hospital que lhe salvaria a vida por uma greve relâmpago deflagrada por ele. O futuro receptor de um órgão doado, longamente esperado, que vê seu transplante adiado por uma greve que poderia ter sido evitada se ambas as partes o quisessem, pode ser sua mãe ou seu irmão.

É uma peculiar escolha de Sofia. Que é mais importante? Sustentar uma queda de braço com o "outro lado" ou preservar os valores fundamentais, dos quais o primeiro e principal é pura e simplesmente a vida?

Um acréscimo: morreu Juril Carnasciali, a primeira-dama da imprensa paranaense. Com seu texto elegante, espírito arguto e inacreditável generosidade de alma, Juril deixou sua marca singular no registro escrito de nossa província. Fará muita falta.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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