Sonhos são inerentes à alma humana. Alguns são simples, outros mais ambiciosos, mas é bem possível que todos nós, em algum momento da vida, tenhamos vontade de realizar algo diferente. Esse desejo pode ser pessoal, como a concretização de um projeto individual, ou visar o bem-estar da coletividade.

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O inacreditável é perceber a quantidade de projetos que são abandonados exclusivamente por falta de recursos. Sim. Dinheiro é importante. Essencial para a vida em sociedade, mas está longe de ser tudo. Lembremo-nos de pessoas que, mesmo diante de dificuldades, deixaram como maior legado exemplos de sucesso, empreendedorismo e perseverança. Steve Jobs, Albert Schweitzer, Che Guevara e Gandhi são alguns dos nomes que entraram para a história ao materializar projetos, defender causas globais e até alterar decisões tomadas por nações. Qual teria sido o segredo desses homens? Acreditaram em seus ideais? Tiveram a habilidade de influenciar pessoas? Deram o primeiro passo? Foram persistentes? Sem dúvida eles fizeram tudo isso, mas, acima de tudo, foram capazes de unir e convencer pessoas em torno de uma causa.

Conseguiram o que hoje, por meio da internet e das redes sociais, ficou ainda mais fácil. O conceito de crowdfunding (financiamento coletivo, na tradução para o português), bastante conhecido e difundido nos Estados Unidos e Alemanha a partir de 2010, chegou ao Brasil com mais força há cerca de três anos com uma proposta sedutora: possibilitar a captação de dinheiro por meio de plataformas na internet. Se alguém tem um desejo, plano ou projeto, mas precisa de recursos para viabilizá-lo, a própria comunidade pode contribuir e tornar a ideia realidade. Como forma de agradecimento, recebe recompensas de acordo com o valor ofertado. Caso a proposta não conquiste a meta estipulada durante os dias determinados, o dinheiro retorna ao doador. Se conquistar, os apoiadores tornam-se financiadores do projeto.

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Em países como os Estados Unidos, o crowdfunding já é uma realidade de sucesso. Somente em 2013, o Kickstarter, uma das maiores plataformas do setor, apoiou mais de 19 mil projetos. As campanhas levantaram um total de US$ 480 milhões, bancados por mais de 3 milhões de pessoas de centenas de países diferentes. No Brasil, o Catarse é um dos portais mais conhecidos. Desde 2011, quando teve início, mil projetos já foram financiados pela plataforma e o valor arrecadado chegou a R$ 13,78 milhões. O recorde de arrecadação em um único projeto no país, entretanto, pertence ao ComeçAki. Mais de R$ 200 mil já foram reunidos pelo portal para a criação de um livro sobre a história do Fluminense. O site é de Curitiba e, em três anos de atuação, 20 projetos foram apadrinhados e arrecadaram R$ 600 mil. Isso foi possível graças ao envolvimento de 11 mil apoiadores.

Mesmo promovendo apoios significativos em áreas artísticas, esportivas, sociais, ambientais, culturais e educacionais, os números revelam que o mercado de crowdfunding no Brasil ainda engatinha. É quase 100 vezes menor na comparação ao americano, e o fato demonstra que o brasileiro ainda tem receios quanto à prática, apesar de demonstrar-se solidário de outras formas. Dados do ComeçAki comprovam a coerência da percepção. Um dos projetos apoiados pelo site em setembro do ano passado propôs a construção de um anfiteatro na Associação Beneficente São Roque, em Piraquara. O local permitiria aulas de coral a crianças carentes da região, de corte e costura para as mães, e propunha, para o futuro, a criação de um teatro e um cinema no espaço. Além de beneficiar centenas de pessoas, a proposta tinha a intenção de mudar vidas. Um post patrocinado no Facebook da plataforma atingiu 26 mil pessoas. Dessas, pouco mais de mil assistiram ao vídeo, 268 curtiram o post, outras 53 compartilharam, mas somente três contribuíram financeiramente.

Arrisco-me a creditar o comportamento à desconfiança sobre a confiabilidade dos portais e da correta destinação dos valores arrecadados. Em um país em que a corrupção ainda faz parte de nossa política e cotidiano, o comportamento não é de estranhar. Mas até quando pensaremos assim? Ninguém é obrigado a adotar uma causa, mas a satisfação ao notar que se contribuiu para a realização de um sonho é incalculável. Sugiro que cada vez mais pessoas vivam essa experiência e tirem suas próprias conclusões. Além disso, a vida em sociedade pode ser bem mais gratificante quando nos apoiamos mutuamente, visando construir um mundo melhor. E a dica vale não só para pessoas, mas para empresas que também são peças importantes dessa engrenagem social.

Somos capazes de começar uma mudança para apoiar causas justas e sérias. Podemos unir pessoas em torno do bem e apoiar ideias capazes de alterar realidades. Diante disso, sugiro que, da próxima vez que o leitor se deparar com uma causa de crowdfunding, reserve um tempo para analisar a confiabilidade do portal e a possibilidade de ajudar também. Se a moda pega, amanhã é o seu sonho que pode ser realizado graças ao apoio da coletividade!

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