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O que você seria capaz de fazer se nunca ninguém descobrisse e se nenhuma consequência sucedesse desse ato? Perguntinha danada de boa. Se respondida com sinceridade revela crenças e valores pelos quais o sujeito realmente vive, independentemente daqueles que ele diz viver.

Por exemplo, dias atrás foi noticiado um estudo sobre comportamento sexual feito com 86 alunos homens de duas universidades do estado de Dakota do Norte, nos EUA. Perguntados se forçariam uma mulher a fazer algo sexual contra sua vontade, caso não fossem descobertos e não houvesse nenhuma consequência, 26 deles responderam que sim. Portanto, um terço dos entrevistados teria confessado que estupraria uma mulher nessas condições. Seriam homens maus, desejariam praticar o mal? Duvido muito. Tanto que esse número diminuiu para 11 quando perguntados, explicitamente, se estuprariam.

Na realidade, o que essas respostas declaram – ainda que os rapazes não tenham se dado conta disso – é que, em se tratando de sexo, eles têm por valor maior a satisfação do seu apetite sexual. Se não o saciam sempre, ou quando bem "precisariam", é apenas por obstáculos externos, não por causa de sua consciência moral.

É o mesmíssimo valor que, no fundo, leva muitos a defenderem o aborto. A maioria desses defensores não quer o assassinato de bebês, é evidente. O que defendem, na realidade, é a liberdade sexual, valor que se tornou sacrossanto depois dos anos 60. Tão fundamental que qualquer coisa que pareça limitar essa liberdade só pode ser algo de ruim, nem que seja um neném. Logo, só uma coisa pode ser boa: quanto mais liberdade sexual, melhor.

Aliás, capa recentíssima de uma importante revista semanal brasileira, tratando do filme baseado no livro mais badalado dos últimos tempos, Cinquenta Tons de Cinza, deu a seguinte chamada: "Especialistas preveem avanço na liberdade sexual feminina". Bom, se sadomasoquismo é avanço, o estupro não seria um dos próximos da fila? Afinal, para a mulher que prefere obter prazer sexual com o próprio sofrimento físico ou moral, que é a definição mesma de masoquismo, o estupro não seria o sofrimento perfeito, o prazer supremo?

Falando em sofrer, estudos pouco divulgados, como um de 2004, publicado no American Journal of Preventive Medicine, mostram que o risco de suicídio e depressão em jovens que praticam sexo desregrado é muito maior do que naqueles que não optaram por esse modo de vida. Mas quem quer contar quantas mortes essa tal de liberdade sexual pode dar causa, não é mesmo? Melhor abortar essa conversa broxante por aqui.

Enfim, voltando ao progresso, do jeito que a coisa anda, não está longe o dia de escutarmos um estuprador usando o mesmo argumento que os defensores do sexo livre usavam nos anos 60. Aquele de que o "sistema" não permite a expressão livre de sua sexualidade etc. Estará mentindo?

Eu sei, são perguntas incômodas. Mas precisamos falar sobre liberdade sexual. Ou façamos o de sempre: colocar a culpa no conservador cristão machista patriarcal retrógrado careta homofóbico racista e que só saberia destilar ódio (ufa!). Hoje em dia isso é irresistível, mais até do que fazer sexo.

Francisco Escorsim, advogado e professor, é coordenador do Instituto de Formação e Educação de Curitiba (IFE).

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