A Primavera Árabe, como ficaram conhecidas as manifestações populares por democracia e reformas econômicas, varreu tal qual um tsunami de areia vários países do Oriente Médio e da África. Com o nascedouro na Tunísia, o movimento se estendeu pelo Egito, Iêmen, Bahrein, Arábia Saudita, Argélia, Marrocos, Líbia e Síria, países onde os manifestantes tomaram as ruas e praças exigindo a deposição de ditaduras que se cristalizaram no poder. No entanto, passados mais de seis meses dos primeiros protestos, o que se constata desses movimentos libertários, inicialmente saudados como um sopro de liberdade, é que eles passam por um perigoso impasse que deixa muitas dúvidas sobre o seu futuro.
Impasse provocado por um lado pela indefinição em torno da adoção das mudanças prometidas e por outro diante da resistência férrea de alguns dos déspostas, que se agarram ao poder sufocando com sangue e balas as revoltas. Nem mesmo na Tunísia e no Egito, onde os governantes já foram depostos e eleições livres foram prometidas, o cenário pode ser classificado como de tranquilidade. No Egito, manifestação recente em defesa de um governo submetido ao rigor da sharia (código de leis islâmicas) revela o risco de o radicalismo religioso tomar o lugar do diálogo pela construção de um país de linha democrática. Enquanto isso, à espera das prometidas eleições para o final do ano, os egípcios convivem com as incertezas do presente. A capital, Cairo, está sob toque de recolher depois dos confrontos dos últimos dias envolvendo forças do Exército e manifestantes cristãos coptas que pedem a saída do conselho militar que governa provisoriamente o país desde a queda de Hosny Mubarak. Os conflitos já provocaram mais de 20 mortes, além de um grande número de manifestantes feridos e presos.
O que está ocorrendo no Egito, em particular, sinaliza com bastante clareza que a simples deposição de um governo ditatorial e corrupto que persistiu por 30 anos não significa necessariamente a solução de todos os problemas. De uma maneira geral, o Oriente Médio e o Norte da África se caracterizam pela predominância de governos oligárquicos que se perpetuaram no poder e pelas características das sociedades, submetidas a multifacetados interesses étnicos, religiosos e políticos. A esses complicadores regionais soma-se o interesse estratégico que tem a região para o mundo em razão do mar de petróleo existente no subsolo do deserto.
Em meio a tanta instabilidade, a bola da vez na região se desloca para a Síria, cujo presidente, Bashar al-Assad, vem há meses tentando reprimir as manifestações contra o seu governo fazendo uso de extrema violência. Nem mesmo as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia foram suficientes para dissuadir Assad de recuar nas ações repressivas contra a população. Ao contrário, no lugar de recuar, o ditador anuncia mais rigor contra os rebeldes, advertindo inclusive os países que reconhecerem o Conselho Nacional Sírio, colizão de oposição, com "duras medidas" de seu governo.
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