Um cenário de incertezas e elevada aversão ao risco se instalou no cenário macroeconômico nos últimos dias de 2014. Clima de insegurança afeta investidores. Desvalorização da moeda frente ao dólar, queda do preço do barril do petróleo. A descrição acima pode soar familiar ao brasileiro. E é, mas não se restringe apenas ao nosso país. O cenário turbulento descreve o momento atual da economia mundial. O Brasil, apesar de inserido neste contexto, vive uma perspectiva de transição de governo. A mesma presidente, mas com uma equipe econômica diferente, com propostas que visam mostrar, principalmente, uma preocupação em resgatar a credibilidade.
As indicações de ajuste firme e rápido do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para fazer com que a economia brasileira volte aos trilhos, combinada com a ideia de sacrifícios sem "solavancos" e promessa de um ajuste fiscal, parecem agradar investidores que continuam de olho no Brasil.
Nem mesmo as últimas projeções de crescimento segundo a atualização do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2015, a economia brasileira deve avançar apenas 0,8% fizeram com que o Brasil deixasse de despertar interesse, principalmente em setores de alto grau de atratividade como saúde, educação, transporte, tecnologia, serviços auxiliares e segmento financeiro. Os três últimos, aliás, foram os que registraram maior volume de transações de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês) em 2014: tecnologia, concentrando cerca de 20% das operações; serviços auxiliares e o segmento financeiro, com 10%.
Apesar de, para muitos, o cenário ser pessimista, os números divulgados pela Pricewaterhouse Coo (PwC) mostram um outro caminho. Entre janeiro e outubro de 2014, foram registradas 717 transações de M&A no Brasil, com maior parte dos investimentos sendo de caráter nacional, sem participação estrangeira um total de 58%, contra 42% do segundo, que no ano anterior foi de 44%. Em 2013, considerando-se o mesmo período, o índice foi de 664 operações de um total de 813, computando-se o ano todo.
E, para 2015, isso não deve mudar. Mesmo com o vislumbre de um cenário político incerto, o mercado de fusões e aquisições poderá se aquecer em número de transações no novo ano. Alguns fundos de private equity já estão captados e prontos para investir algo em torno de US$ 8,3 bilhões a serem investidos no Brasil e na América Latina. Importante ressaltar que esses fundos captados têm um prazo de dois a três anos para investir. Caso contrário, perdem o montante levantado.
Se por um lado existe um movimento de fuga de investimentos em setores como óleo e gás principalmente por causa do fator Petrobras e uma desconfiança do investidor estrangeiro em setores altamente regulamentados, por outro há uma série de oportunidades de aquisições em campos distintos, com oferta de preços e condições favoráveis: a taxa de câmbio com cotação do dólar mais forte deverá fazer com que investimentos no mercado brasileiro fiquem mais atrativos e mais baratos para os investidores estrangeiros.
Há ainda a questão regional. Se por um lado a Região Sudeste predomina de forma avassaladora no índice de transações de M&A, para os próximos anos há uma forte perspectiva de que empresas das regiões Norte, Nordeste e Sul estejam cada vez mais preparadas em matéria de governança, formalização de negócios, auditoria financeira etc. No caso da última, há uma movimentação considerável no setor de educação.
Precisamos reconduzir nosso olhar do pessimismo para as oportunidades que despontarão no mercado em 2015. Investidores estrangeiros, principalmente os que já conhecem os meandros regulatórios e políticos brasileiros, continuarão aportando seus investimentos por aqui. Se por um lado negócios envolvendo companhias de grande porte tendem a diminuir, a recíproca não é verdadeira quando se fala no "middle market" empresas entre R$ 20 milhões e R$ 1 bilhão de faturamento , que cada vez mais desponta no cenário econômico nacional.
Fabio Matsui é sócio-fundador da Cypress, assessoria financeira especializada em mercado de capitais e operações estruturadas.
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