A ideia de cidadania como mera cobrança traz implícita a noção de que tudo precisa vir do Estado, quando na verdade há um sem-número de tarefas que poderiam estar a cargo dos próprios cidadãos
Donos de restaurantes de Antonina, no Litoral paranaense, deram um exemplo de cidadania retratado pela Gazeta do Povo em 13 de dezembro: eles promoveram uma reforma e uma faxina no trapiche, que é um dos pontos mais visitados da cidade litorânea. A próxima etapa é a revitalização da praça onde está localizada a Fonte da Carioca, uma construção histórica. O trapiche, usado não apenas pelos barqueiros que vivem na região, mas também pelos turistas que fazem passeios náuticos pela Baía de Antonina, estava abandonado, o que prejudicava o turismo na cidade. A ação dos empresários é uma demonstração de um sadio protagonismo cidadão que precisa ser incentivado.
Décadas de paternalismo estatal criaram no brasileiro um conceito manco de cidadania, que se resumiria a dois itens: votar e a cobrar o poder público. A participação nas eleições e a fiscalização dos governantes são importantes, mas a verdadeira cidadania é um tripé: para ser completa, precisa também da participação popular. Dar prioridade à ideia de cidadania como cobrança traz implícita a noção de que tudo, ou quase tudo, precisa vir do Estado, quando na verdade há um sem-número de tarefas que poderiam muito bem estar a cargo dos próprios cidadãos, que se organizariam para identificar necessidades e oportunidades e se juntariam para atingir seus objetivos. É exatamente o que fizeram os empresários de Antonina.
Assuntos como o cuidado com o local onde se vive e com as pessoas que dividem o mesmo espaço urbano são melhor resolvidos por quem convive diariamente com essa realidade. Ao Estado caberia proporcionar as condições para que essa atuação popular seja eficaz, e agir naquelas circunstâncias em que a participação cidadã seja incapaz de resolver determinada situação. A segurança pública, por exemplo, sem dúvida é dever do poder público (apesar de haver oportunidades de colaboração dos cidadãos, como os Consegs e iniciativas em que vizinhos vigiam as casas de quem está ausente); mas o que impediria os moradores de um bairro de se encarregar da arborização das ruas? Ou de organizar programas de reforço escolar para pessoas carentes? Caso a tarefa se mostrasse acima das capacidades dos moradores, aí, sim, o Estado poderia agir, complementando o que os cidadãos iniciaram.
Assim, percebe-se que o principal obstáculo ao protagonismo cidadão é cultural e reside na mentalidade estatista e na visão do espaço público como "coisa de ninguém". É difícil se convencer de que o local onde se vive é "coisa de todos" quando não há envolvimento com o seu cuidado. Isso explica que, nesses tempos de movimentos "ocupe", muitos achem ótimo "ocupar" Wall Street, mas quase ninguém se interesse em "ocupar" a própria rua, a praça mais próxima ou o seu bairro. Os empresários de Antonina resolveram trilhar o bom caminho. Que mais pessoas se disponham a segui-lo no ano que se inicia amanhã.
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