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Com o objetivo de defender a sua pele, o deputado Roberto Jefferson não pretende afundar sozinho. Já ficou claro que como réu confesso está procurando se abraçar a outros possíveis culpados. Entre as pirotecnias verbais do deputado, a acusação de que nenhum deputado ou senador presta contas corretamente das despesas de campanha é algo grave para ser anotado. Pode até ter passado despercebido, mas é mais provável que tenha havido um caso de surdez coletiva. O fato é que não se viu ninguém se defendendo enfaticamente da denúncia. Ao se calar, fica o suposto consentimento.

Em um de seus recentes editoriais, a Folha de S. Paulo deu o seguinte destaque ao assunto: "Quando um deputado, que de maneira alguma pode ser considerado um campeão da moral e dos bons costumes políticos, diz para os seus pares no Congresso Nacional que ‘todos são iguais’ e ninguém se mostra capaz de contrastar o argumento, tem-se a real dimensão da crise política brasileira". Este estranho e sombrio teatro, sobre o qual temos pouca opção de interferir, tem rendido acréscimos de índices de audiência em diversas redes de televisão no Brasil. A TV Senado nunca teve tanta audiência.

Entre as diversas avaliações que podem ser feitas sobre o assunto, é possível que as palavras de Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da USP, possam traduzir mais adequadamente o momento (Folha de S. Paulo, 2 de julho de 2005). O professor levanta a tese de que a insensibilidade ao sofrimento dos mais pobres, laboriosamente construída ao longo de cinco séculos, é o caldo de cultura para a corrupção. O desdém pela pobreza nos torna uma sociedade viciada, afirma o professor. E nesse caso como os valores éticos poderiam ainda vicejar? Na opinião do professor, só o combate frontal à injustiça social poderá enfrentar a corrupção. Tudo o mais serão meras palavras, muitas delas ingênuas, algumas hipócritas. Mas quem teria condições de travar esse combate?

O professor procura construir uma resposta a esta indagação indicando o próprio Partido dos Trabalhadores como principal protagonista. O partido teria muitas falhas, no entanto resiste e apresenta algum diferencial que ainda poderia salvar a esperança que se encontra por um fio. Na opinião do professor, é ainda o partido mais apto a apontar, hoje, para a redução da iniqüidade no Brasil. E destaca o professor: "Outros grandes partidos se acomodam com a injustiça ou, pela composição de suas bases, têm políticas menos empenhadas na luta contra a desigualdade. É claro que, se há corrupção no PT, ela deve ser apurada, mas também é verdade que ele é o partido mais afeito a discussões sérias, lavando a roupa suja com freqüência – e mesmo em público". Esta, na opinião do professor, seria a melhor contribuição que o partido poderia dar à sociedade brasileira. E conclui: "A corrupção só pode ser controlada, se resolvermos a injustiça social, e o PT é quem melhor sinaliza nesta direção".

A conclusão, de fato, é que o partido não só pode sair bem desta enrascada, como também pode prestar um grande serviço ao país. Com isso, poderia reacender a chama da esperança que sempre esteve presente nos discursos. É isso que os cidadãos que ajudaram levar Lula à Presidência da República (milhões dos quais nem sequer filiados ao partido) de fato esperam. Que a esperança seja salva. A chance é agora. Caso contrário é colocar na cabeça o chapéu com a marca de que "todos são iguais" e silenciosamente voltar para casa.

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