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Olhar num sentido amplo as relações de poder e pensar um novo conceito de política ao país, neste momento histórico, traz muita aflição a todos, pois está misturado numa ordem institucional viciada de interesses pessoais. Na última pesquisa do Ibope o parlamento brasileiro teve quase 90% de rejeição pela população. A instituição mais confiável de todas é a Igreja Católica, que teve uma aprovação de 80%. Culpar apenas um núcleo do governo pela atual crise política instalada é ingenuidade. É preciso que se navegue em direção a um porto seguro, e não apenas se faça análise ou formule teses sem entender-se o passado e a história de nossos partidos políticos. Com a redemocratização nacional nasceu o pluripartidarismo sem uma meta organizada para a criação das novas agremiações partidárias. Com a luta das Diretas Já, em 1985, muitas legendas surgiram em torno do interesse da elite econômica nacional. Muitos dos partidos de tradição perderam força, e os ideais particulares se sobrepuseram à ideologia partidária. Entre os anos de 1985 e 1995 as regras para a criação de partidos eram frouxas, e não existiam normas explícitas para a regulamentação das legendas. Durante esse período, 76 delas concorreram em alguma eleição pelo Brasil afora e fizeram silenciosamente uma sangria dos cofres públicos de algum modo.

Atualmente, temos 30 partidos com registro definitivo, e grande parte deles não desenvolve nenhuma atividade partidária voltada à população, como palestras, produção de material para orientação, espaço público para debate sobre as políticas nacionais. Em todo o país estima-se que haja quase 20 milhões de filiados em alguma sigla partidária. O grande problema é que os partidos políticos no Brasil não são levados a sério. Muitos dos eleitores são convencidos a se filiarem, mas nem sabem onde fica a sede do seu próprio partido. A maioria dos filiados não é orientada e nem avisada das atividades partidárias, conduta que deveria ser considerada uma violação. Para se ter uma idéia, muitos dirigentes partidários nem sequer entregaram a relação anualmente atualizada de seus membros – embora a Lei 9.096/95 estabeleça a obrigatoriedade dessa entrega –, pois se descumprirem não sofrerão nenhum penalidade severa.

Fazer a reforma política não é apenas mudar as regras do pleito eleitoral, como das propagandas, das pesquisas, do orçamento e da divulgação do candidato. O certo é, sim, mexer nas estruturas dos partidos políticos, cobrando debates e ações para com a coletividade. As mudanças não devem ser feitas em foco, mas sim na sua totalidade. Os eleitores precisam participar dos debates dos partidos políticos. Hoje, o que vemos são clãs de alguns grupos de interesse que exercem influência nas decisões governamentais. A reflexão ético-político da atual crise trouxe uma observação importante: as condutas políticas não se comportam mais eticamente, pois não vive o imoral, mas o amoralmente. As ideologias, os aparatos econômicos do Estado, já não permitem mais a existência de sujeitos livres, de cidadãos conscientes e participantes, e as agremiações partidárias têm grande parcela de culpa.

Nos bastidores do Congresso Nacional começam a aparecer os que defendem o sistema parlamentarista. Se esse sistema é bom ou ruim, o que nos cabe agora, como sociedade civil, é discutir a reestruturação dos partidos antes de qualquer debate para o futuro da nação. Diante da situação enraizada em nosso cotidiano, a política, em vez de ser um instrumento para solucionar o bem comum, não deixa de ser a maior parte das vezes uma disputa pessoal em torno do poder. Não podemos mais permitir que o debate das mudanças nacionais fique apenas nas mãos das elites políticas tradicionais, que há século são patrões das cadeiras nos parlamentos, graças às suas manipulações eleitoreiras.

O resultado é visível com a fragilidade partidária existente, principalmente no que tange ao troca-troca partidário. As siglas são meros instrumentos que agenciam e negociam os mandatos para os seus candidatos, os quais rasgam os princípios da moralidade, impessoalidade, eqüidade, etc. É certo que não podemos generalizar essa análise, mas grande parte das organizações político partidária, as de maior filiação, está viciada pelos seus "velhos donos". Se o partido do governo se corrompeu e os outros estão corrompidos, isso quer dizer que estamos cheios de maus dirigentes e temos pouca participação da sociedade civil organizada na organização política brasileira. Os que mais sofrem são os jovens que se afastam a cada dia da construção de uma sociedade participativa.

consultapolitica@yahoo.com.br

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