Causa surpresa o fato de o trecho Guarapuava-Paranaguá ainda não estar entre os investimentos ferroviários confirmados pelo governo federal
O novo ciclo de investimentos do governo federal na ampliação das ferrovias conquista apoio do Nordeste ao Sul do país. Mas, em plena fase de confirmação dos projetos, as prioridades parecem estar sendo revistas. E está ficando de lado, por tempo indeterminado, uma obra de extrema importância para o Paraná: a construção de um novo trecho entre Guarapuava e Paranaguá.
O Sul do país espera investimento de R$ 13,7 bilhões nos próximos anos para quatro trechos. O maior deles é o último lote da ferrovia Norte-Sul 1,2 mil quilômetros entre Panorama (SP) e Rio Grande (RS) , que deve consumir metade dessa verba. Os três projetos menores confirmados são os 420 quilômetros de Maracaju (MS) a Cascavel (PR) (R$ 2,1 bilhões); os 500 quilômetros entre as cidades gaúchas de Carazinho e Uruguaiana (R$ 2,5 bilhões); e a Ferrovia do Frango, que terá 600 quilômetros e deverá ligar os municípios catarinenses de Chapecó e Itajaí (R$ 3,1 bilhões). Esses valores estão acima das primeiras projeções de custo dos trilhos que ligariam a malha da região central do Paraná ao Porto de Paranaguá.
Causa surpresa o fato de o trecho ainda não estar entre os investimentos confirmados. A obra pode encurtar a distância entre Guarapuava e Paranaguá em um quarto, ou 100 quilômetros: e reduzir o tempo de viagem dos comboios pela metade, para três dias. A linha atual não dá conta da demanda e deixa a desejar na condição de uma das mais importantes ligações ferroviárias do país. Com traçado sinuoso, força os trens a trafegarem lentamente por regiões montanhosas sem necessidade.
O governo informa que carece de dados técnicos para dimensionar a obra, entrave a ser resolvido com envolvimento de instituições públicas e privadas. Os esforços da Universidade Federal e do Instituto de Engenharia do Paraná prometem dar respaldo a levantamentos dos setores da economia a serem beneficiados pela construção. Mas os estudos específicos dependem do próprio governo federal, que destinou R$ 30 milhões para traçar os quatro projetos com investimentos confirmados.
Não se trata de colocar o projeto à frente dos demais, também importantes para o transporte da produção agrícola e industrial da Região Sul. O que se mostra necessária é a inclusão da obra na lista das ações urgentes. Tratando-se de ferrovia, a lentidão desse processo é um problema conhecido. Muitos projetos que eram discutidos na década de 1970 ainda não saíram do papel. O país deveria ter 50 mil quilômetros de trilhos e possui apenas 29 mil. Se os planos atuais forem seguidos, serão ao todo 40 mil dentro de uma ou duas décadas, um avanço que ocorre com atraso.
Essa própria lentidão exige que as ações sejam ordenadas de forma que as necessidades mais urgentes recebam atenção prioritária. O transporte ferroviário de todo o Paraná vai ganhar com o fim do gargalo que as vias sinuosas construídas na Serra do Mar representam. Da forma como está, o sistema simplesmente não atende a boa parte dos municípios. Para muitas regiões, é como se, até hoje, o estado não tivesse ferrovia. Somente com uma segunda ligação serrana é que a expectativa de redução de custos nos setores que dependem das rodovias finalmente irá se concretizar.
O trecho Guarapuava-Paranaguá cabe nos planos de investimento federais. O Ministério dos Transportes anunciou recentemente que irá aplicar R$ 25,6 bilhões no Paraná até 2022. Nos próximos oito anos, Brasília promete aplicação anual média de R$ 4,6 bilhões em ferrovias. A demora em se resolver gargalos como o da ferrovia da Serra do Mar acaba inclusive contradizendo toda essa estratégia.