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Ben Bradlee, o carismático ex-diretor do The Washington Post, é sempre uma palavra que merece ser ouvida. Segundo Bradlee, "um grande editor é alguém capaz de atrair bons profissionais para trabalhar no jornal. É alguém que sabe como encorajar talentos e despertar o melhor nas pessoas. É como um técnico de um time." O comentário, apoiado na força persuasiva da simplicidade, resume todo um programa de recursos humanos para as redações.

Os recursos humanos são, de fato, a peça-chave de uma empresa informativa. O tempo e o dinheiro gastos em atrair, formar e aperfeiçoar os melhores profissionais são um investimento extremamente rentável. O gerenciamento de uma redação é muito mais do que uma atividade de coordenação editorial. É a fascinante capacidade de promover talentos. Os bons editores, assim como os grandes maestros, sabem que a beleza de uma sinfonia não depende de um gênio solitário, mas de uma fina solidariedade de talentos.

Bradlee, um editor formado numa época de ouro do jornalismo impresso, não conseguiu, no entanto, captar as reais conseqüências do avanço da internet. A seção dos classificados, por exemplo, nicho tradicional da mídia impressa, precisa ser repensada com urgência e ousadia. Caso contrário, será engolida pelas facilidades oferecidas pela internet. A cultura virtual, queiramos ou não, é um fato. Os jovens são navegantes compulsivos do ciberespaço. Mas os jornais só conquistarão essa importante fatia do mercado se efetivamente perceberem que os seus sites não podem ficar reduzidos à simples reprodução virtual do seu conteúdo impresso. O jornalismo na internet pressupõe uma profunda revolução nos conceitos, na forma e no conteúdo da informação. Exige, ademais, equipes especializadas e bem formadas na cultura do jornalismo on-line.

Bradlee percebeu que o jornal pode ser imbatível na cobertura local. Segundo ele, a tevê e a internet estão um pouco "ausentes no noticiário local, sobre o que está acontecendo na comunidade em que as pessoas vivem. E esse é um mercado importantíssimo para nós." Tem razão. A globalização está produzindo um fenômeno curioso: quando tudo é (ou pretende ser) transnacional, o local ganha enorme importância. As pessoas estão carentes de vínculos próximos. O leitor quer saber o que acontece na sua cidade, no seu bairro, no seu quarteirão. O consumidor real – não o de proveta, concebido no ambiente rarefeito das redações – quer saber em que medida o global pode afetar o seu dia-a-dia e, como é lógico, o seu bolso. Quer uma ágil e moderna prestação de serviços. Consultórios ou seções de respostas nas áreas de saúde, direito, aplicações financeiras e informática, por exemplo, são um sucesso em todo o mundo.

Ben Bradlee, formado na escola dos antigos editores, mantém excessiva distância dos leitores. Não acredita nas pesquisas de opinião e imagina que a postura vertical é a mais recomendável para o relacionamento do jornal com o seu público. "Os leitores podem não querer ver no jornal o tipo de informação da qual precisam. E podem não querer o que você acha que eles deveriam receber", sublinha. Um bom jornal, por óbvio, não pode ficar refém do mercado. Precisa, freqüentemente, tornar interessante o que é realmente importante. Mas um jornal de qualidade não pode viver de costas para o leitor. Os jornalistas precisam escrever para os leitores e não para os colegas. O jornal precisa ter a sábia humildade de moldar o seu conceito de informação, ajustando-o às autênticas necessidades do público a que se dirige. Quando jornalistas e editores, entrincheirados e hipnotizados pelas telas dos computadores, não vão à luta, as redações se convertem em centros de simples processamento de informação pasteurizada. O lugar de repórter é a rua, garimpando a informação, apurando, prestando serviço ao leitor.

O jornalismo de qualidade reclama atualização, treinamento, inovação e ética. Fora disso é o vazio. E não há anabolizante que resolva.

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética da Comunicação e representante da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra no Brasil, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia Ltda.

difranco@ceu.org.br

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