É mais fácil acertar um bloco de rocha a 134 milhões de quilômetros da Terra do que o alvo da crise que sacode o Brasil. O inédito feito espacial foi registrado no dia 4 de junho, assegurando, entre outras perspectivas, que, no futuro, asteróides possam ser bombardeados antes de se chocarem com o nosso planeta.

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Se, por um lado, tivemos incrível avanço tecnológico, por outro, pouco evoluímos em matéria de civilização, humanismo, convivência e tolerância entre pessoas de diferentes classes, credos e ideologias; paz e justiça social, cidadania, comportamento e transparência na gestão pública... É o que revelam os ataques terroristas que acabam de fazer mais vítimas inocentes, agora em Londres, sinalizando para uma guerra sem fim, sem regras e sem localização.

A crise que estamos vivendo no Brasil é outra manifestação nebulosa e ameaçadora. Enquanto a poeira não baixar, não saberemos com clareza o que é, mas já podemos adivinhar, através dos estranhos sinais, o tamanho da massa que viaja em alta velocidade na nossa direção.

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É estranho que em plena era digital, do chip, do cartão magnético, dos hackers, das transferências eletrônicas de valores, pessoas fiquem circulando por aí com malas abarrotadas de dinheiro. O primeiro acusado de fazer isso – figura central da série de escândalos – é o empresário Marcos Valério, que estaria a serviço do PT pagando mesadas a parlamentares. Foram igualmente flagrados o assessor parlamentar cearense, José Adalberto Vieira da Silva, em São Paulo, quando tentava embarcar para Fortaleza com R$ 200 mil em uma mala e US$ 100 mil escondidos na cueca; o deputado federal João Batista Ramos da Silva, quando se preparava para decolar de Brasília para São Paulo, com nada menos que sete malas de dinheiro, contendo R$ 10,2 milhões; e dois políticos de Minas Gerais que tentavam desembarcar em Belo Horizonte com 11 volumes de dinheiro.

Relativos a atividades religiosas, os dois últimos casos mereceriam ser excluídos dessas considerações se não pairassem críticas contundentes à maneira como certas seitas lidam com a riqueza material. Não é a Bíblia que diz que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu?

Mas não é a questão religiosa que interessa aqui. Essa espantosa movimentação de dinheiro em malas pode ser interpretada apenas como evidência do que pode estar ocorrendo sorrateiramente, que é o modus operandi de quem rouba. Tememos que contra essa ameaça pouco valem as armas que vêm sendo disparadas: reforma do Ministério, demissão de funcionários de estatais e cassações de parlamentares. Já vimos esse filme antes e o que mudou?

Nessa primeira fase da nossa jovem democracia, o poder político e o econômico vivem uma relação incestuosa, marcadamente hostil à coletividade, favorecendo figuras gananciosas e sem ética, a exemplo de Paulo César Farias, os "anões do orçamento", os "300 picaretas", Marcos Valério e tantos mais que vêem na política uma forma de negócio, um caminho para o enriquecimento rápido, à custa da sangria dos cofres públicos. Esse sistema tem servido para sustentar projetos de manutenção do poder – o que tudo indica que o PT vinha fazendo, servindo-se das amplas possibilidades da máquina pública e do fisiologismo alastrado pela distribuição de cargos estratégicos em estatais e órgãos públicos.

Eis a ameaça que paira sobre o que há de bom no Brasil e contra ela ainda não temos uma arma tão precisa como a que acertou o asteróide a 134 milhões de quilômetros. Sabemos, porém, que ela precisa ser construída à base de controles democráticos das relações entre economia e política, indivíduo e coletividade. Nascerá daí a solidez das nossas instituições.

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mauricio@crcpr.org.br