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Revolução Cultural em Brasília

As lojas de Brasília estarão proibidas de vender armas de brinquedo a partir do ano que vem, sob pena de multa de R$ 100 mil e fechamento do estabelecimento. Quando vi a notícia pela primeira vez, fiquei imaginando tratar-se de brinquedos que imitam armas, não raro utilizadas por bandidos para coagir suas vítimas. Isso faria algum sentido. Mas não: a lei veta também os artefatos coloridos que emitem som e luz, disparam bolas de plástico, espuma e água. O objetivo da lei não é dificultar a vida dos meliantes, mas "reeducar" as nossas crianças.

"É uma grande honra sancionar essa lei. Se nossas crianças são educadas nessa cultura de não violência, quando chegarem à adolescência e forem apresentadas às armas terão todo o conhecimento para evitá-las e isso é um exemplo que queremos levar para todo o Brasil", disse o governador Agnelo Queiroz. "Estamos em busca de uma nova cultura, a da não violência, que tem que vir de nossas crianças", afirmou Valéria de Velasco, secretária para a proteção de vítimas de violência no governo do DF, ao jornal inglês The Guardian. "É um trabalho de transformação cultural. Armas de brinquedo não matam, mas simbolizam uma atitude." Segundo a secretária, a nova lei foi elaborada como parte de um conjunto mais amplo de ações de políticas públicas destinadas a reduzir a violência e "construir uma nova cultura – a cultura da paz".

As falas do governador e da secretária são mais uma prova – se é que alguma prova ainda é realmente necessária – da tentativa de doutrinação esquerdista/progressista sobre nossos filhos. São pessoas que ainda insistem em "criar um novo homem". Nada muito diferente dos programas de reeducação de Mao Tsé-tung, durante a famigerada Revolução Cultural chinesa.

Brincar com armas de brinquedo tem sido a diversão de milhões de crianças, mundo afora, desde priscas eras, fossem elas manufaturadas ou simplesmente esculpidas em madeira. Para dar uma ideia do ridículo, eu pergunto: depois dessa lei esdrúxula, também vão punir os garotos que apontarem o dedo para outros, ou mesmo aqueles que venham a utilizar canetas e outros objetos como imitação de armas?

Quando meninos e meninas apontam suas armas ou esguicham água uns nos outros, a brincadeira geralmente envolve proteger os mocinhos dos bandidos. Isso os ajuda a diferenciar o bem do mal, o justo do injusto, o certo do errado. Será que estamos falando de algo tão ruim, meu Deus? Será que esses "proibicionistas" não tiveram infância? Será que já pesquisaram a proporção de crianças que, no passado, brincaram de polícia x bandido e se tornaram adultos honestos e trabalhadores? Acho que não.

Esse tipo de atitude não servirá para outra coisa senão incutir em nossas crianças mais insegurança, mais medo e mais desconfiança. Os pequenos aprendem pelo exemplo, e o exemplo que estamos dando a eles é o da paranoia, da fobia, da pusilanimidade. No afã de protegê-los, estamos comprometendo o futuro deles. Em vez de querer regulamentar até as brincadeiras infantis, deixem nossos filhos brincar em paz, aproveitar a vida, usar a imaginação. E o mais importante: sob a tutela da família, não do Estado-babá. Por favor, não os transformem em adultos traumatizados, covardes e sem iniciativa.

João Luiz Mauad, administrador de empresas, é especialista do Instituto Liberal.

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