A despeito do quadro de aguda recessão internacional, precipitada pela zona do euro e contagiando inclusive as nações emergentes, e de estagnação da economia brasileira, fruto da orientação monetária e fiscal presa ao curto prazo, as estatísticas disponíveis demonstram que o Paraná vem moldando o segundo tempo do quarto estágio de transformação de sua estrutura produtiva, antecedido pelas três empreitadas de planejamento dos anos 1960 e 1970.
Tal processo começou no intervalo 1995-2000 com a vinda das montadoras de veículos e seus fornecedores, a modernização do agronegócio e a diversificação da indústria papeleira e madeireira e foi interrompido entre 2003 e 2010. Na ocasião, o estado perdeu o trem do dinamismo brasileiro, ao registrar variação média anual de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB), contra 4% para o país, o que custou o recuo na formação da renda interna nacional de 6,4% para 6%.
A virada gradual e consistente deste jogo começou a ser delineada no início de 2011, com a iniciativa política de edificação de um arranjo institucional, preenchido, de maneira sincronizada, por atores públicos e privados interessados no desenvolvimento do Paraná. As articulações traduziram uma atmosfera de permanente e transparente diálogo, visando à restituição de um ambiente propício à realização de negócios.
Mais especificamente, em bases contemporâneas, o governo do estado voltou a coordenar, induzir e fomentar, em sintonia com as propostas do Executivo federal como, por exemplo, a modelagem da regionalização do Programa Brasil Maior, em condução de maneira parceira pela Fiep, Secretaria de Planejamento e Ipardes e com as oportunidades para alocação de recursos, em iniciativas de retorno privado e social, pelos organismos multilaterais, como os bancos Mundial e Interamericano de Desenvolvimento.
Os ativos desse esforço cooperativo já começaram a ser colhidos. A base industrial do estado vem exibindo, desde 2011, indicadores do mercado de trabalho mais expressivos que a média brasileira, segundo o IBGE. O estado também vem criando empregos de qualidade superior à média nacional, sendo a indústria de transformação responsável pela abertura líquida de 24,3% dos postos formais entre janeiro e agosto de 2012 no Paraná, contra 13,4% no Brasil, de acordo com o Caged, do Ministério do Trabalho e Emprego. Mais que isso, 93% das vagas geradas no parque fabril do estado estão fora da Região Metropolitana de Curitiba.
O Paraná acumulou mais de R$ 19 bilhões em uma diversificada carteira de projetos industriais privados, entre fevereiro de 2011 e setembro de 2012, inscritos no Programa Paraná Competitivo, com potencial de criação de mais de 114 mil vagas de trabalho, se considerados os postos diretos e indiretos, além dos efeitos irradiadores em toda a economia regional.
Trata-se de uma breve contabilidade, reveladora do retorno de um desejo intransigente de retomada econômica e recuperação dos mecanismos para a sua viabilização no estado, apesar dos crônicos embates com os entes federais, sintetizados no desprezo às bandeiras regionais, especialmente no recente Plano de Investimentos em Logística, que negligenciou as demandas nos modais ferroviário e rodoviário e foi rechaçado de pronto pela sociedade paranaense.
Gilmar Mendes Lourenço, economista e professor da FAE, é diretor-presidente do Ipardes.