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As horas finais de 2005 remetem-nos ao inevitável balanço do ano – um agitado ano que deixará marcas na história do país, mas do qual poucos, em sã consciência, guardarão saudades. Muitas são as razões que provocam o desejo de esquecê-lo: foi o ano do mensalão, dos grandes escândalos éticos nas altas esferas do governo, de agitação e cassações no Congresso; foi o ano em que o Brasil cresceu muito menos do que podia, o ano dos juros siderais, o ano da mais absoluta falta de investimentos e, portanto, o ano da paralisia.

Como consolo, reconheça-se, 2005 foi também o ano em que o brasileiro pôde comprovar que, apesar de tudo, suas instituições mostraram-se fortes o suficiente para suportar a mixórdia generalizada em que todos estivemos metidos. Não houve ameaça capaz de subverter a normalidade do Estado Democrático de Direito. A imprensa, portando-se com liberdade e responsabilidade, pôde cumprir seu papel. O Judiciário não foi constrangido a ponto de perder sua independência. O Legislativo, ao instalar três polêmicas CPIs simultâneas, teve seus momentos de glória cívica. E o Executivo, ainda que sob inédita saraivada de denúncias, conseguiu sobreviver ao caos político.

É verdade que, do ponto de vista econômico, há registro de alguns sucessos importantes. A inflação, por exemplo, fechou dentro do patamar civilizado de 5,2%. A dívida externa diminuiu consideravelmente, o risco-país manteve-se baixo. As exportações cresceram e o saldo comercial bateu novo recorde. Os bancos nunca lucraram tanto...

Entretanto, tais êxitos acabaram por custar muito caro, pois a política econômica – para obtê-los – sacrificou-nos a todos com a manutenção, durante todo o ano, da mais alta taxa mundial de juros e com o acúmulo do maior superávit primário de todos os tempos. Estes dois fatores geraram distorções no cenário econômico. A marcha do crescimento – que parecia firme em 2004, quando o PIB aumentou em 4,5% – foi amargamente interrompida em 2005, baixando para apenas 2,5% – a segunda menor taxa dentre todos os países do continente americano, só superior à do pobre Haiti.

Às agruras econômicas das quais é preferível esquecer, somam-se as desventuras da política e da corrupção. Será necessário descomunal esforço para que não mais nos lembremos, no futuro, das faces que simbolizaram este triste período – de Roberto Jefferson a José Dirceu, de Delúbio Soares a Marcos Valério, de Severino Cavalcanti a Duda Mendonça. Por trás dessas faces esfacelou-se o dito patrimônio ético do Partido dos Trabalhadores, o mito do operário-Presidente e também a esperança de que estaria na classe política o porto seguro para levar o país avante.

Por conta de tanta balbúrdia, o Congresso quase nada votou. A reforma política ficou para as calendas, a reforma tributária não avançou, a reforma sindical e trabalhista ficou apenas na intenção. Letárgico, o governo também não investiu em infra-estrutura e descuidou de muitos serviços essenciais.

De fato, 2005 não é para deixar saudades – a não ser como o ano que deixou grandes lições sobre como não repetir seus erros em 2006.

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