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A cada dia, duas crianças entre 0 e 14 anos são feridas por tiros acidentais no Brasil.

Segundo o DataSUS (banco de dados do Sistema Único da Saúde), vinculado ao Ministério da Saúde, o Brasil é o país do mundo com o maior número de pessoas mortas por armas de fogo. Em 2003, foram 108 mortes por dia. Quase 40 mil no ano.

As armas de fogo são a primeira causa de morte de homens jovens no Brasil. Matam mais que acidentes de trânsito, mais que a aids. Ainda segundo o Datasus, em 2002, 63,9% dos homicídios no país foram cometidos através da sua utilização. E, de cada 4 feridos nos casos de agressões por arma de fogo, 3 morrem. Ter arma em casa – ao contrário do que afirmam os partidários da arma e da campanha do "não" – significa maior risco. O FBI (polícia federal norte-americana) afirma que, "para cada sucesso no uso defensivo de arma de fogo em homicídio justificável, houve 185 mortes com arma de fogo em homicídios, suicídios ou acidentes".

Esse dado revela que armas em casa voltam-se contra a própria família. E não só colocam em risco a vida da família perante o bandido, mas a família em si, em no mínimo três situações.

A primeira situação diz respeito à vida de crianças. A arma pode ser encontrada por elas, e provocar acidentes trágicos. Os dados do Datasus relativos a 2002 mostram que, no Brasil, duas crianças entre 0 e 14 anos são feridas por tiros acidentais, todos os dias.

A segunda consiste na facilitação para aqueles que desejam o suicídio. Em geral, o suicida busca um meio qualquer de pôr fim à própria vida. Com uma arma de fogo, as chances de "sucesso" são bem maiores. As estatísticas mostram que 85% das tentativas de suicídio com armas de fogo acabam em morte.

A terceira situação coloca em risco a mulher. O Datasus mostra que, nas capitais brasileiras, 44% dos homicídios com arma de fogo têm mulheres como vítimas. Em dois terços desses casos, o autor foi o próprio marido, namorado ou companheiro, e o crime ocorreu dentro de casa. Portanto, uma arma dentro de casa, somada com o machismo, oferece grandes possibilidades de provocar um homicídio cuja vítima seja a mulher. Também é a mulher que fica mais em casa e, em caso de invasão da residência, ela corre maior risco – reagindo ou não. De acordo com dados do FBI relativos a 1998, para cada vez que uma mulher usou uma arma em legítima defesa, 101 vezes esta arma foi usada contra ela. Isso ocorre não só com a mulher, mas com qualquer um que reage a um assalto à mão armada. Uma pesquisa realizada no estado do Rio de Janeiro mostra que a chance de se morrer numa reação armada a roubo é 180 vezes maior de que morrer quando não há reação. A chance de ficar ferido é 57 vezes maior.

Em defesa da vida e contra as armas, o governo brasileiro iniciou em 2004 a Campanha do Desarmamento. Em sete meses de vigência da campanha, o número de homicídios diminuiu em mais de 8%. Este é um dado importante. Significa que milhares de vidas foram salvas.

Todos esses dados coloco para a reflexão de você, caro leitor. Espero que, no próximo domingo, você responda sim à pergunta: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?"

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