• Carregando...
 |
| Foto:

O bispo Lugo foi destituído da presidência do Paraguai em processo de impedimento que durou três dias. A Câmara dos Deputados aceitou a acusação de incompetência política para o cargo e o Senado o julgou no dia seguinte, destituindo-o. A rapidez chamou a atenção mais que o mérito da questão. Ato contínuo, os demais membros do Mercosul, sem ouvir os argumentos do novo governo, suspenderam o Paraguai da organização.

Discursos irados na Argentina, Venezuela e Equador deixam claro o medão que alguns chefes de Estado sentem de passar por situação semelhante à de Lugo. Governantes voluntariosos que fazem tudo que dá na veneta temem a perda súbita da posição de poder. O acontecimento paraguaio pode funcionar como exemplo para incitar movimentos oposicionistas internos e isso dá calafrios em tiranetes que não largam o osso. Assim, por instinto de sobrevivência, gritam, escandalizam, expendem torrentes de adjetivos, mas não chegam ao âmago da autodeterminação dos paraguaios, que têm regras constitucionais para o processo político de impedimento do presidente e as aplicaram à situação. Nada substantivo, apenas generalidades e afirmações ideológicas sobre as causas defendidas por Lugo. Essa coisa está igual tosa de porco: muito barulho e pouco pêlo, diria um patrão de CTG.

O rito processual das leis paraguaias é muito veloz para o processo de impedimento do presidente, é verdade. Porém, em contrapartida, a celeridade impede que o país se dilacere em confrontos internos. Collor tentou chamar o povo às ruas para defendê-lo e, felizmente, as passeatas clamaram pela sua saída. Não houve nenhum grupo collorido importante nas ruas. Se houvesse, as consequências poderiam ser trágicas durante o demorado processo que não chegou ao fim completamente porque ocorreu a renúncia. Considerando-se a exacerbação notória dos ânimos políticos no Paraguai, a presteza do Parlamento para acusar e julgar foi fundamental para assegurar a tranquilidade pública. Outro aspecto positivo dessa brevidade é que o Poder Executivo não se hipertrofia ante ao Legislativo e precisa contar com apoio constante dos parlamentares, governando de modo menos imperial.

O processo de impedimento é político, não judicial. A legitimidade para o poder não é estática, conquistada de modo imutável na vitória eleitoral; ela é dinâmica, deve ser mantida e consolidada todos os dias no exercício do poder. A deslegitimação de Lugo é assunto dos paraguaios e nós, potência democrática regional, não deveríamos ter agido a reboque de histéricos que estão desesperados com a própria fragilidade. Andou muito mal a diplomacia brasileira.

Nesse episódio Lugo cresceu. Ao agir de modo honrado na derrota, fortaleceu-se como ator político presente na história do Paraguai. Caso mantenha essa postura e as próximas eleições ocorram serenamente, os paraguaios terão criado paradigma positivo para os povos sul-americanos, espoliados por messias viris ou viragos que governam como donos da hacienda.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]