No último sábado, a Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas (AAHC) promoveu reunião solene para comemorar o décimo aniversário de fundação, anunciar reformas do edifício, indicar novos projetos, homenagear benfeitores e transmitir cargos diretivos para os novos eleitos.
O diretor-geral do HC, Giovanni Lodo, comentou que após 45 anos de funcionamento é a primeira vez que o prédio passa por uma completa revitalização. Os recursos financeiros vêm da Fundação Universidade Federal do Paraná (Funpar), da AAHC e da própria UFPR. Ele admite que sem a contribuição da comunidade as obras não poderiam ser realizadas em face da insuficiência da arrecadação pelos serviços prestados.
O advogado Fernando Miranda, um dos fundadores e dinâmico presidente da AAHC, presidiu a cerimônia de transmissão do cargo para a empresária Maria Elisa Ferraz Paciornik que, em comovente discurso de saudade e gratidão, prometeu o melhor de seus esforços em favor da causa da saúde. Um dos homenageados foi o ex-diretor Mário Sérgio Julio Cerci pelas primeiras e entusiasmadas iniciativas em prol da instituição.
Dois significativos atos foram prestigiados pelo reitor, Carlos Augusto Moreira Júnior, pelo presidente da Assembléia Legislativa do Paraná, Hermas Brandão, e outras autoridades. O primeiro foi a indicação do Espaço Augusto Prolik, em homenagem à memória do valoroso advogado e um dos benfeitores da AAHC. O segundo foi o lançamento do Laboratório Célula-Tronco sob a coordenação científica do médico Danton Rocha Loures.
A célula-tronco constitui um tipo de célula que pode se diferenciar e constituir diferentes tecidos no organismo. Esta é uma capacidade especial, porque as demais células geralmente só podem fazer parte de um tecido específico. Por exemplo, as células da pele só podem constituir a pele. Outra capacidade especial das células, segundo Mayana Zatz, professora titular de Genética da Universidade de São Paulo, é a auto-replicação, ou seja, podem gerar cópias idênticas de si mesmas. Elas poderão funcionar como células substitutas em tecidos lesionados ou doentes como nos casos de Parkinson, Alzheimer e doenças neuromusculares e no lugar de células que o organismo deixa de produzir por alguma deficiência, como na diabete.
O professor Danton informou em discurso na solenidade que o laboratório estará pronto em 90 dias e permitirá preparar o sangue retirado da medula de ossos longos como o fêmur e a bacia separando as células-tronco destinadas a serem injetadas diretamente em corações doentes. A construção teve a ajuda da AAHC, nas pessoas de Fernando Miranda, Euclides Scalco e da empresa de engenharia Andrade Gutierrez. Também concorreu para essa conquista o diretor do Setor de Ciências da Saúde, professor Rogério Mulinari.
A relevante pesquisa irá aprofundar o conhecimento sobre o comportamento das células-tronco na corrente sanguínea e no músculo do coração. O professor Danton explica: "Podemos entender como a terapia celular agirá na formação de novos vasos (angiogenese) em casos de graves obstruções ocasionados pelo fenômeno da aterosclerose. E também de sua ação nas células de um músculo comprometido por doença de Chagas ou Cardiomiopatia Dilatada."
E com uma frase muito apropriada ele acentua que na pesquisa "o limite do conhecimento é o infinito".
Por uma coincidência muito oportuna para a ocasião, os jornais de sábado noticiaram que uma equipe de cirurgiões de um hospital de Londres recebeu autorização para fazer o primeiro transplante completo de rosto. Um mês antes, na França, foi realizada com sucesso uma operação parcial da mesma natureza. A paciente teve esfacelada a parte inferior do rosto ao ser atacada por um cão.
Tais procedimentos extraordinários mostram um rumo já antevisto pelo humanista Camilo Castelo Branco (1825-1890): "Não é exagero dizer que a ciência abrange o futuro da humanidade; só ela pode dizer-lhe a palavra do seu destino e ensinar-lhe a maneira de atingir a sua finalidade".
René Ariel dotti é advogado, professor universitário e foi secretário de estado da cultura do paraná.